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Quando fiz Santo....


 - Quando fiz Santo, não existia Internet, Whatsapp. O aprendizado era na Roça, no dia a dia das funções. Eu era um adolescente, não tinha carro, e muitos irmãos também não tinham. Para ir até o Barracão de Candomblé, descia de ônibus na BR e andavamos 4, 5 km de estrada de Terra para chegar no Axé, no bairro de Jardim Catarina, na epoca ainda era de barro e Iamos felizes por que lá era nosso Porto Seguro. Hoje em dia muitos se não tiverem quem busque na porta de casa de carro, se nao tiverem o dinheiro do motorista do aplicativo, e se a Roça não for no seu Bairro ou Cidade, não vão querer frequentar, é muito sacrifício;

- Quando fiz Santo, não se ouvia falar em 20, 30 qualidades de Santo. Eu tinha sido feito de Oya e acreditava ser Santa Barbara ou Joana Darck, e pra mim já bastava, já era o suficiente. Somente alguns anos de iniciado que comecei a entender e aprender sobre caminhos (qualidades de Orisa). Hoje a pessoa quer jogar búzios comigo e já chega dizendo: Sou filho de Oya Gbalé!...
ai eu respondo: minha filha, enquanto vc não for raspada, nem de Oya posso dizer que você é filha, apenas de Osala com yemonja e cuidada por determinado santo ate o momento do seu Labe;
- Quando fiz Santo, foi assentado somente 03 orisas, somente Dona Oya, Pai Omolu e Pai Osogian, e nada mais e estava tudo ótimo!, minha vida caminhou, consegui meu emprego, tive cabeça boa para estudar, viajar, me formar e tantas outras benefícies que Dona Oya me deu. Anos após que por questões religiosas assentei outros Orisa de acompanhamento e meu Exu. Hoje se você raspar um yawo e nao assentar 4, 5 santos ele vai dizer que foi mal feito. Vá na Nigeria fazer santo e veja qtos santos vão assentar pra você?
- Quando fiz Santo, Orisa quando estava em Terra, seja na cabeça de quem fosse, ninguém falava alto, muito menos ficava com a cabeça em pé ou disperso. Ali a Divindade em Terra era o motivo de estarmos ali. Hoje em dia em muitos Terreiros os Orisas estão em Terra ou cerimonias acontecendo e algumas pessoas concentradas no Whatssap ou no Facebook;
- Quando fiz Santo, não se olhava diretamente nos olhos do Pai de Santo, muito menos se sentava mais alto que a cabeça dele. O Sacerdote era o representante do Orisa, advindo da monarquia que era o processo ( ainda é) de liderança das terras da Mãe África. E não atrelado aos colonizadores como processo escravagista como muitos querem afirmar;
- Quando fiz Santo, aprender era questão de conquista. Tudo era conquistado, galgado, merecido, tudo no tempo correto. Hoje a internet está destruindo o culto a Orisa pois além de aprender o que não é de sua raiz e querer ainda assim questionar, muitos querem aprender sem verdadeiramente passar pelos segredos.
Como sou feliz de ter feito santo nesta epóca em que relatei e por estes motivos sou o Homem de Axé que sou hoje.
É este o Candomblé que acredito, e luto para manter vivo e é o que ensino aos meus filhos!
Att. Babalorisà Gilmar de Yansan

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