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Vamos respeitar mais o que nos foi deixado a tanto custo, sangue, suor e lágrimas por nossos ancestrais!


 "Sou iniciado em candomblé, religião de matriz africana, mas brasileira por excelência!

Aqui não tem mistura com esses papos de tradição! Tradicional é quem respeita sua matriz, valoriza e segue o axé q recebeu.
Santo não atravessou o atlântico à toa!
Veio porque acompanhou seus filhos no momento de provação maior de fé: a escravidão.
Então, esses mesmos agbás que vieram, organizaram uma religião, um culto pros seguidores daqui, a duras penas... E o santo aceitou e responde ha séculos. Não sou eu q vou mudar!
O que foi adaptado e chegou até mim, de um jeito autossuficiente, eu recebo e aceito com muito orgulho.
Quem tiver de entender q entenda...
Santo aqui mora em sopeira de porcelana, sim! Santo aqui conhece e aceita azeite de oliva, sim! Santo aqui conhece e aceita vinho moscatel, sim!
Não tem esse papo de bebida destilada (gin), não! Exu aqui aceita cachaça, sim! Santo manda seus recados nos búzios, sim! Eu sigo o que aprendi com meu pai, sim! A matriz ainda faz o que os antigos estipularam, sim! Eu sigo o axé que me deram, sim! Eu sou de candomblé, sou brasileiro, meu axé é com x, sim! Eu ponho cerveja no pé de Ogun, sim! Meus bichos são calçados, sim! Iyagba usa baiana e camisu, sim!
Essa mistura banalizada na internet não me serve! Meu candomblé é na oralidade, aprendido na cozinha, fazendo, praticando, ouvindo os antigos abaixado, tomando a bênção, respeitando a hierarquia, tomando baixa, perdendo noites, sorrindo, chorando... Nunca tive uma apostila, nem um caderninho... Aqui é tudo na cabeça! Meu santo entende muito bem o meu português, sim! Me responde. Faz milagres na minha vida e na de quem tem fé, sim!
Sou do obi e do orogbo! Sou do wagi, do ekodide!
Não é qualquer bobagem que me convence...
Se o santo chegou até mim desse modelo, não sou eu que vou fazer diferente! Eu aceito! E amo como o recebi. Tenho cuidado nestes 42 anos e tem dado certo. Estou vivo, sadio e feliz. Tenho um teto sobre minha cabeça e comida em minha mesa. E a cada dia tenho mais amor e fé!
Esse papo de africanizar pra mim não dá! Eu sou brasileiro, do candomblé e sou feliz!
Respeitarei sempre a origem, o continente de onde partiram até chegar a mim. Mas eles não vieram pro Brasil à toa, como disse...
E se forem prestar bem atenção, são mais bem cultuados e respeitados aqui do que na própria terra de origem. O q eles tem feito por lá é vergonhoso. Banalizaram Ifá, banalizaram Egungun e estão banalizando orixá... Tipo pagou, levou. Estão banalizando geral. Vendem até títulos falsos. Nada disso me seduz! Sou feliz e realizado como estou. Amo meu candomblé brasileiro!
Aqui eu sou feliz!"
Marcio Rocha

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