PERSEGUIÇÃO HISTÓRICA
Segundo Ivanir dos Santos, 66, babalawô e professor de pós-graduação em História Comparada da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os ataques a religiões afro-brasileiras promovidos por criminosos começaram há quase 30 anos.
"Essas perseguições, orquestradas por traficantes que se dizem evangélicos, começaram na década de 1990 em Acari. Em 2008, novos casos de perseguições aconteceram no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Essas ações vêm se estendendo a diversas regiões do estado do Rio de Janeiro."
Além de reunir casos de violência religiosa, a CCIR também promove ações para fortalecer o diálogo interreligioso. Após a agressão que sofreu, Kayllane participou de diversos atos de conscientização. Em um deles, realizado em 2017, recebeu abraços no lugar de pedras. "Uma pessoa de igreja evangélica se aproximou, me abraçou e disse que nem todos são assim. Em seguida, me pediu perdão por aquele que me agrediu e disse que isso não é atitude de um seguidor de Deus. Eu não esperava."
AINDA HÁ MOTIVOS PARA SORRIR
Enquanto me preparava para fazer as fotos que ilustram essa reportagem, presenciei uma cena que vai na contramão da violência, assunto deste texto. Mãe Kátia arrumava com todo cuidado as guias de Kayllane Coelho. A jovem não é só sua neta. É também a herdeira do terreiro. Por ser quem levará a tradição adiante, a preparação não vai esperar. Começará já no ano que vem. No candomblé, os sucessores assumem antes dos chefes antigos morrerem. Antes de eu fotografá-la, Mãe Kátia se posicionou sorridente diante de um mural com as figuras de Iemanjá, Oxalá e Xangô, os orixás da casa. Pedi que ela ficasse séria, afinal, a conversa era tensa. Ela negou. Disse que, mesmo diante de todas as dificuldades, ainda há motivos para sorrir.
Fonte : Tab Uol 30.01.2021
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