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A DEMONIZAÇÃO

Para Mãe Kátia, a intolerância religiosa nasce dentro de templos de outras religiões. "Uma coisa que acontece muito é a demonização das nossas entidades. Há uma traição no casal, e na igreja dizem que é culpa de pomba-gira."

O preconceito se perpetua em locais onde criminosos deveriam ser reabilitados. Para ela, o movimento vem de uma fé capitalizada, digital e de um trabalho feito ainda nos presídios. "Infelizmente, pregam aos internos um discurso de ódio que incentiva a violência e joga no diabo a culpa pelos crimes cometidos."

"Costumo dizer que a impunidade é a mãe da violência. Enquanto as leis não forem cumpridas, fica muito fácil essas pessoas fazerem o que querem", afirma.

Criada no fim de 2018, a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) recebeu 46 denúncias de perseguição religiosa em 2019 e 49 em 2020. Para a delegada titular Márcia Noeli Barreto, a violência tem aumentado, a despeito do que mostram os números. "As vítimas não procuram a Decradi por medo, uma vez que muitos sacerdotes são moradores do terreiro e os membros são do entorno da comunidade. E uma denúncia pode causar problemas."

Os registros diferem muito dos dados levantados pela CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa), iniciativa que reúne casos para repassá-los às autoridades. Em 2019, data do último levantamento disponível, quase 180 terreiros tiveram suas atividades encerradas. Os números tiveram um salto de quase 100%, comparados a 2018, quando houve 92 denúncias. Mesmo para a CCIR, esse número pode ser muito maior, já que, por medo, muitas vítimas não dão visibilidade aos casos.

Outro problema, diz a delegada Barreto, é que os moradores não sabem que podem denunciar casos assim. A delegacia até passou a distribuir panfletos para incentivar os registros e está preparando uma cartilha com orientações.

Apesar de as religiões de matriz africana serem historicamente perseguidas, é o neopentecostalismo que desenvolve e assume a 'teologia da batalha espiritual' como um princípio. Com isso, percebemos uma radicalização da demonização dessas religiões. Na [narrativa da] luta do bem contra o mal, os terreiros passam a personificar o mal absoluto que precisa ser combatido para garantir os desígnios de Deus. É a missão do membro do 'exército de Cristo' batalhar contra orixás, exus, pretos-velhos

Lucas Obalera, sociólogo

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