As mãos pretas,O pretume é sangue seco. Ayrá está cansado. Ele é Ayrá Gbona, o Valente. Em seu acampamento ele Se senta no chão, O servo trás a tina De água quente com vinagre E Ayrá lava as mãos. O cabo do Machado Chega estava colado na mão direita, Durante a Batalha era assim, Lutava até o sol se por, Ate os sangue dos inimigos Secar em grossas pelotas nas mãos. O tropel de um cavalo chama a sua atenção, Ayrá não tem forças nem para ficar em pé, Está exausto. Na tenda entra o rapazola, mensageiro. Ayrá apenas ergue a cabeça e pergunta "O que é de tão importante para vir perturbar meu descanso?" O rapaz se abaixa por respeito Para não ficar com a cabeça mais alta Que a do Orixá. "Trago notícias de Oyó meu senhor, notícias mui tristes. O Rei Dadá caiu, Xango usurpou o trono." Ayrá ouve aquilo e não acredita, Como poderia ser verdade? Dadá era seu amigo de anos E ele era bom, gentil, amava crianças E se preocupava com a felicidade do povo, Dadá era o melhor rei que já se sentou no trono. Mas Xango... Ayrá não ia com as fuças de Xango, O problema era que eles dois eram parecidos demais, Xanga e Ayrá era como gêmeos, E por isso Ayrá sabia que alguém assim no trono Não era para ser. De manhã cedinho Ayrá monta no cavalo E vai até Igboho, cidade onde Dadá havia sido exilado. Lá estava Dadá usanso uma coroa enorme Tão grande e com tantas franjas Que era impossível ver seu rosto, A coroa da vergonha, Ade Bayanni Feita para que as pessoas não pudessem ver Dadá chorar. Dada chora de tristeza e de vergonha, Se sente muito constrangido ao ver Ayrá Pois não queria que o amigo O visse em desgraça. "Como isso aconteceu Dadá? Como veio parar aqui?" Ayrá pergunta e Dadá entre soluços conta "Foi meu irmão... Ele é maior que eu, mais forte. Ele tomou a coroa de mim e me expulsou. Só a verdadeira coroa de Oyó da direito a sentar no trono, Xango a escondeu, deu ela para aquela mulher Oyá, ela escondeu a coroa na terra dos mortos onde ninguém além dela pode entrar." Dada chora novamente Se sentindo muito humilhado. Ayrá quer ajudar mas não sabe como Então consola um pouco o amigo E retorna até o campo de batalha Para travar suas guerras. Sete anos se passam Até que em uma empreitada Ayrá se depara com um exército inimigo Que era em menor número Mas muito astuto E após várias batalhas sem vencer Ele se reune com os generais Para discutir uma estratégia E um deles diz uma frase que muda a história. "Nem sempre se vence através da espada, as vezes a melhor arma é a inteligência ". Quando Ayrá houve isso seus olhos se arregelam, Em sua cabeça acabava se surgir A mais maluca das idéias. Ele deixa o campo de batalha Monta no cavalo e vai para Oyó, Lá manda que os servos avisem Xango Que ele, o grande Ayrá Gbona das terras de Ketu Veio finalmente reconhecer Xango como rei. Xango o convida para dentro do Palácio E Ayrá vai a janta com ele e as esposas. Ayrá olha em volta e vê primeiro Obá, ela tem os braços fortes e é famosa Por saber manejar quaisquer arma de guerra. Ele olha para Oxum, pequena e cheia de enfeites Mas os olhos ávidos de Ayrá reparam nos seios dela E ele percebe que sob a roupa ela leva uma espada. Por fim ele ve Oyá que está sentada junto a Xango, Oya tem fama de ter derrubado até Ogun, Então Ayrá decide não desafiar ninguém ali, Não seria prudente. Ele sorri e brinca com os quatro Sendo o máximo dissimulado que podia. No fim da visita ele finge ir embora, Mas não vai, dá a volta pelos corredores do Palácio E começa a vasculhar cômodos Até que encontra o quarto de Oyá. Entra e pega um dos baús, então foge. Ayrá vai para a floresta Para o bambuzal, Lá ele abre o baú e tira de dentro Pertences de Oyá, roupas femininas Pulseiras e uma coroa. Ayrá ri como um moleque maroto Enquanto veste as roupas dela Enche os pulsos de pulseiras E cobre a cabeça e o rosto com a coroa de chorão. Ele tinha de se passar por Oyá, Porem mesmo fantasiado dela Ele não convencia ninguém. Os corpo de Ayrá era maior, Seus ombros largos, pescoço grosso, Braços músculos e canelas fortes O identificavam como homem Mesmo a quilômetros de distância, Ele olha para baixo e vê Seus pés enormes escapando Para fora da saia, Aquilo é engraçado Mas pode por tudo a perder. Ele então teve outra idéia, Oyá fazia ritos onde usava Ajere, a Panela de fogo, Ayrá arranjou uma panela de barro A encheu de buchas de mamalongo, Ensopou de óleo e ateou fogo Fazendo uma chama vermelha Muito parecida com a da panela de Oyá. Ele leva a Panela sobre a cabeça E da um ultimo suspiro tomando coragem Pois se o plano desse errado Ele seria despedaçado pelos egun. Ayrá entra no bambuzal onde rapidamente cai Para a casa escura onde os mortos habitam. É frio, puro breu, ele sente como Se estivesse em uma caverna de pedra gélida E o que mais assusta são os ruídos roucos Vindo de toda parte, são os mortos a espreita. Os egun olham para aquela figura E não sabem muito bem o que fazer, Nao sabem se saúdam ou se atacam Porque parece Oya, mas ao mesmo tempo não. Ayrá usa a panela de fogo como distração Agitando a cabeça para fazer a chama bruxolear, Os egun fixam a atenção no fogo E deixam Ayrá passar sem perceber Que aquela pessoa não era Oyá. Ayrá bota as mãos na cintura E tenta fazer a pose mais petulante Que consegue para tentar Fazer o papel direito. Ele vasculha aquele lugar pavoroso Até que acha a reluzente coroa de Oyó, A apanha e se vira para sair dali, Quando sai ele está exultante, pula e gargalha Enquanto tem nas mãos a coroa preciosa. Tira as roupas de Oyá Monta no cavalo e vai a toda para Igboho, Lá está Dadá rodeado por suas esposas Todos tristes em profunda miséria. Quando Ayrá se aproxima de Dadá ele arranca o Ade Bayanni Da cabeça de amigo, Dadá se surpreende com aquela violência Até que Ayrá agita diante dele A coroa de Oyó. Os olhos de Dadá brilham de lágrimas E desta vez ele chora de felicidade, Ele permite que Ayrá coloque a coroa Em sua cabeça e então fica em pé E abraça seu Salvador. Para Ayrá aquele abraço Fez tudo ter válido a pena. Dadá volta para Oyó E usando a coroa o povo o recebe Como legítimo rei enquanto Xango e as esposas fogem da cidade. Ayrá volta para o campo de batalha Satisfeito por ter ajudado seu amigo. Dadá quis dar a ele ouro e presentes Mas Ayrá não aceita, Ele não precisa, Tudo o que fez foi apenas para fazer justiça. É assim que Ayrá é.
Até os dias de hoje os amigos de Ayrá Nunca ficam desamparados E ele sempre luta pela justiça. E se lembrem, ele é valente no campo de batalha, Mas também é esperto feito uma raposa.
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