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A Umbanda É Macumba.

Umbanda É Macumba

Um texto muito lido da Umbanda se chama "Umbanda Não é Macumba", e basicamente defende a ideia de que a tradição religiosa fundada por Zélio Fernandino de Moraes e que acabou por se chamar Umbanda nascia pra se diferenciar das "macumbas" cariocas, vistas como feitiçaria, religiosidade primitiva, venda do sagrado.
Ocorre que, à época (1908), pretos velhos, caboclos, crianças, exus e pombagiras já baixavam nas macumbas. As primeiras casas de candomblé, com o culto iorubá aos orixás, já tinham se estabelecido no Rio. A Quimbanda também já tinha uma caminhada. Isto sem falar nas rezadeiras e benzedeiras, a uma das quais Zélio foi levado antes do centro espírita, onde baixou por primeiro o Pai Antônio. Todas elas, regiões de pretos, pobres, migrantes do Norte e Nordeste, muitos deles, escravos libertos há não mais que 20 anos, que muitas vezes, tudo que tinham para sobreviver era a venda da sua magia ancestral em troca por um prato de comida, perseguidos pela polícia, proibidos do seu culto (visto como "baixo espiritismo"), alvo de todo tipo de preconceito pela sociedade branca, e pressionados pelo governo a serem expulsos para as periferias. É neste contexto que Zélio começa seu trabalho.
O nome Umbanda vem como uma identidade de uma nova raiz, que procura se diferenciar da Macumba. Mas, será que, passado mais de um século, esta visão ainda faz sentido? O autor de Umbanda não é Macumba afirma que macumba é o nome de um tipo de reco-reco usado antigamente nos terreiros e no samba. E, por isso, não faria a Umbanda se identificar por Macumba, macumbeiros. Mas, será que é apenas isso?
O historiador Luiz Antônio Simas afirma que macumba "tem provável origem no quimbundo (língua bantu) mukumbu, que significa “som". Para Antenor Nascentes, a "macumba" como ritual vem também do quimbundo dikumba, que quer dizer "cadeado" ou "fechadura", como referência aos rituais secretos de fechamento de corpos. Para Nei Lopes, a origem está no quicongo (também bantu) kumba, "feiticeiro", sendo makumba o plural. Segundo Simas, o feiticeiro em terras bantu era aquele capaz de encantar as palavras (como poetas).
Assim, precisamos nos despir da visão preconceituosa, a partir de um olhar branco, europeu, colonizador, sobre o que significa ser feiticeiro entre os povos de África, para perceber que o feitiço, e portanto, a macumba, sempre esteve presente no trabalho dos guias espirituais de Umbanda, em todas suas vertentes, inclusive a de Zélio de Moraes e nossa - seja sob o nome de mandinga, mironga, magia, ou como queira chamar. A Umbanda é este permanente encantamento das palavras, pelo qual mantém vivas nossas raízes de africanos, indígenas, encantados e tantos outros povos.
A Umbanda É Macumba, tem macumba, faz macumba e, como diz Simas, nasce das macumbas, dos cultos de nação, do catimbó, das encantarias, do catolicismo popular, dos espiritismos, do ocultismo europeu e de tantas outras encruzas da história. Assumir nossa identidade macumbeira é abraçarmos nossas raízes, para continuarmos a crescer como uma árvore forte. Amor pela Umbanda é não ter medo de dizer o que se é, e não apenas quando se quer vender livros ou se está diante de um guia espiritual para pedir que ele faça uma macumba para lhe ajudar numa necessidade.
Motumbá

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