Neste ano, a 8ª caminhada
inter-religiosa da Zona Oeste acontece no dia 3 de agosto, em Campo Grande. Em
2017, quando o Coletivo TudoNumaCoisaSó, em uma de suas atividades, reuniu
católicos, umbandistas, evangélicos, judeus, candomblecistas e kardecistas na
Praça Rosária Trotta, em Campo Grande, quem poderia prever que dali sairia um
projeto que já dura quase 8 anos?
Aquele encontro representou um marco
no combate à intolerância religiosa no Rio de Janeiro. Dois anos depois, aquela
reunião embrionária foi o ponto de partida para a criação do Movimento
Inter-religioso da Zona Oeste, o MIRZO, que atua como um fórum de debates e
promove o diálogo baseado na fé, no respeito e no amor, independente da crença
de cada pessoa. Já são 7 caminhadas realizadas nas ruas da Zona Oeste, em
parceria com o Coletivo TudoNumaCoisaSó, o Fórum Inter-religioso e muitos
encontros para celebrar a diversidade e a luta por justiça.
Segundo as informações recebidas pelo
Disque 100, quando o assunto é intolerância religiosa, o Rio de Janeiro alcança
o segundo lugar, atrás apenas de São Paulo. Desse infeliz ranking, o território
da Zona Oeste possui a maior concentração de registros - é o que revela o
Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP).
Infelizmente, são muitos os casos de
ataques físicos e verbais contra aqueles que praticam a sua fé, além da
depredação de templos. A cada 10 vítimas de intolerância religiosa, 6 são
mulheres. O número escancara que o preconceito, além de religioso, também é de
gênero. Reconhecer que vivemos numa sociedade machista e racista é fundamental
para romper com esta estrutura nociva.
Em tempos em que o óbvio precisa ser
dito, reforçar que o Estado é laico e cada brasileiro tem o direito de
professar a sua fé nunca é demais. Para que esse paradigma seja quebrado e a
sociedade avance no tema do combate à intolerância, é crucial a valorização de
quem se mobiliza em prol de uma sociedade mais justa e respeitosa.
Em reconhecimento ao trabalho
realizado, ativistas do MIRZO foram homenageados na Câmara de Vereadores do Rio
de Janeiro em outubro de 2023. O vereador William Siri, além da entrega das 74
moções aos fortalecedores do movimento, também homenageou com 4 medalhas -
Pedro Ernesto e Chiquinha Gonzaga - o próprio MIRZO, representado na ocasião
por Lindalva Cabral e João Henrique Oliveira (integrantes do movimento desde
sua origem), Filipe Ribeiro, Marcelo Yango e Margareth Labanca, pessoas que
carregam em sua identidade e trabalho a luta pela liberdade religiosa.
Filipe Ribeiro, professor do curso de
Direito da CMB-UniCBE, tem uma vida dedicada à educação e ao combate à
intolerância religiosa como militante de direitos humanos. Há 19 anos atua na
gestão de ensino superior, reconhecido por seus resultados acadêmicos,
administrativos, financeiros e, sobretudo, pelo trato humano com colegas,
alunos e professores. Filipe também leciona em cursos de pré-vestibular social
na Zona Oeste e mantém relação estreita com movimentos de promoção social de
pessoas em situação de vulnerabilidade.
Marcelo Yango, diretor da Rede Social
Agen Afro, instituição que há 20 anos difunde cultura afro-brasileira a partir
da promoção de eventos, incentivo e trocas com personalidades e lideranças de
religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras. A instituição também atua
com o importante papel de denunciar casos de intolerância religiosa, racismo e
preconceito. Yango, com seus 60 anos de vida, tem ao menos dois terços deles
dedicados à Umbanda, Candomblé Brasileiro e ao Ifá Afro Cubano. Sua fé caminha
ao lado de sua luta pelo fim do racismo estrutural e religioso, tornando-o uma
referência de resistência no território da Zona Oeste.
Margareth Labanca, conhecida como Iya
Margareth de Osun, coordenadora do Ile Ase Omi Bain, em Guaratiba. Aos 71 anos,
conduz o trabalho de acolhimento e inclusão de jovens e crianças em apoio a
seus pais na educação religiosa, com o projeto Raiz de Iroko Filhos de Osogbo.
Atuante também na luta contra a violência à mulher, descriminação religiosa,
homofobia e racismo. Ajudou a coordenar a Caminhada Inter-religiosa da Zona
Oeste e o evento do presente à Iemanjá, que acontece tradicionalmente em
Sepetiba. Margareth também é madrinha do Axé Mulher, que representa as
matriarcas da Zona Oeste.
A honraria, extremamente necessária,
foi uma forma de celebrar as pessoas que prezam pela liberdade de fé. Com
pluralidade, respeito e união, um futuro melhor é possível! Caminhando a gente
se entende.
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