Já faz muito tempo que eu desisti de visitar os barracões ,ver as festas as quais sou convidado,não por desconsiderar meus amigos que me convidam, mas na realidade porque quando volto à minha casa sinto um misto de tristeza e decepção, porque em um passado não muito distante os orisas falavam, e se comunicavam com as pessoas, deixavam recados que certamente contribuíam em muito para a solução de nossos problemas.
O que teria acontecido com o passar dos anos? Os orisas fecharam os olhos e ainda fecharam a boca. É natural que o orisa tenha um idioma de origem, o yoruba, mas orisa é sabedoria e o que adiantaria um orisa falar somente yoruba em uma terra que se fala português?
Sempre os orisas se comunicaram com uma mistura das duas línguas para facilitar o entendimento. Por que agora deixaram de falar? Seria culpa dos sacerdotes que perderam como se faz o ritual da abertura de fala? Será que esses novos sacerdotes já viram um tabuleiro repleto de comidas para tal ase?
Entrar em um barracão e ver um orisa de olhos fechados sendo conduzido para um lado e outro, saber que ele deixou de falar e que só vem ao mundo para dançar, me faz ficar em casa. Saber que os orisas em um passado não muito distante limpavam cozinhavam e orientavam como fazer ebós; saber que um orisa virava na rua e levava o filho para casa quando ele estava correndo algum perigo e, que nos dias de hoje ele só fica cuidando para não quebrar as plumas de sua roupa me deprimi.
Eu aprendi religião em uma casa que o orisa ia na rua buscar os cabritos do ritual, ajudava a segurar as galinhas e conversava com seus filhos por horas, com os olhos bem abertos como podemos comprovar com filmes e fotos, coisa que ainda acontece na terra mãe.
Como sou muito jovem para me colocar como conhecedor, tento contribuir como testemunha da historia que está se transformando, e para que as pessoas não acreditem que tudo isso é fruto da minha imaginação segue anexo um texto do falecido professor Agenor Miranda, um dos nomes mais respeitados da nação de ketu na historia moderna.
Palavras do professor Agenor:
Antigamente havia mais humildade, mais fé e mais respeito ao orixá. Hoje não, quase só se vê vaidade e comércio. O axé está enfraquecendo. Talvez por essa razão os orixás do ketu não falem mais, em muitas casas,mas deveriam falar,se recebem o axé de fala. O erê não fala? O próprio orixá não dá seu nome no barracão? Os santos dos antigos sempre falavam, ou em yoruba antigo ou para aqueles que não compreendessem esta língua num português meio arrevesado. Só não falavam os orixás das pessoas que não eram feitas e que, por tanto ainda não tinham recebido o axé próprio.
Um vento sagrado: história de vida de um adivinho da tradição nagô-kêtu …
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Por Muniz Sodré, Luís Filipe de Lima.
By Luiz Fernando Oliveira De Souza
𝐀𝐮𝐭𝐨𝐫: 𝐎𝐥𝐮𝐰𝐨 𝐈𝐟𝐚𝐠𝐛𝐚𝐲𝐢𝐧 𝐀𝐠𝐛𝐨𝐨𝐥𝐚
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