Breaking News

Existe Ogan Raspado? Ìyáwò Pode Tocar Atabaques?


 Para responder essas perguntas, precisamos discorrer um pouco sobre o que é Ìyáwò e o que seria Ogan.


Há uma grande polêmica acerca do tema em título. Hoje, sobretudo no Sudeste, há uma grande discussão em relação se aqueles que foram iniciados na Religião dos Òrìsàs, Raspados, “Adoxados”, contudo não são manifestados por Òrìsà (rodantes), seriam ou não Ogans. Nesse aspecto, afirmo de forma indubitável, com toda a segurança que não, ou seja, Ogans Não São Raspados! Face ao exposto, surge a indagação: Àqueles que são raspados, “adoxados”, entretanto não são manifestados por Òrìsà, seriam o que, então? Respondo categoricamente: Ìyàwó – Iniciado na Religião do Culto aos Òrìsàs!

Hoje, infelizmente, pela falta de cultura e, sobretudo, pela falta de interesse à busca da informação correta, muitos crêem que o “ato de tocar atabaques” está correlacionado ao tipo de iniciação, o que é uma inverdade. Nesse sentido, não há óbices religiosos fundamentados que interditem um Ìyàwó homem que não manifeste Òrìsà, em tocar atabaques. Aqui, posso mencionar uma lista de Grandes Tocadores, todos não Ogans, que são respeitados pela sua arte musical, inclusive por Ogans e, chamados por muitos de Ogans.

O fato da confusão generalizada em acreditar que um Ìyàwó Raspado que não é manifestado por Òrìsà seja Ogan e não Ìyáwò em grande parte, deve-se aos próprios sacerdotes, vejamos:

O indivíduo que entra em uma Casa de Candomblé, antes mesmo de ser suspenso, confirmado, ou iniciado, mas que não é manifestado por Òrìsà é chamado pelo sacerdote como? Ogan! Seus “irmãos”, o chamam de qual forma? Ogan! Como ele se autodenomina? Ogan! Quando esse indivíduo (“Ogan”) adentra oficialmente na religião, se ao invés de ser confirmado como Ogan, ele for raspado e adoxado, ele está sendo iniciado como Ìyàwó - portanto é Ìyàwó - e não Ogan. Não obstante, todos, inclusive seu Sacerdote continuarão (via de regra é isso que ocorre) a chamá-lo de Ogan e não Ìyàwó! Aliás, se perguntarmos aos Sacerdotes, uma definição sobre Ogan, a maioria será breve e dirão erroneamente: Ogan é o indivíduo homem que não é manifestado por Òrìsà, sem discorrer sobre os pormenores com acuro.

Desta forma, observa-se que esse erro comum, decorre do processo de aprendizagem do noviço na religião. No exemplo supracitado, o correto, independente de manifestar ou não, o noviço deverá ser considerado “Abiyan”. O fato do Abiyan não manifestar Òrìsà, a priori não lhe concede a posição de Ogan. Esse “status quo”, além de indevido, gera as inevitáveis dúvidas sobre o tema em questão, principalmente no futuro da vida religiosa desse noviço.

Ante a afirmativa acima; o que seria o Ogan? À luz do Candomblé Tradicional Baiano, Ogan é o indivíduo (Homem) que não é manifestado por Òrìsà, mas que é CONFIRMADO (E NÃO INICIADO). A princípio, esse Ogan, em suma, é “apontado” (escolhido) por um Òrìsà em alguma determinada festa, ou mesmo função dentro do Ilé Òrìsà. Na ocasião, esse Ogan é “suspenso”, por outros desta confraria. Daí, o advento do termo “Ogan Suspenso”. Deste momento, à diante, esse indivíduo passa a executar tarefas no Ilé Òrìsà, sem cunho religioso.

Posteriormente, a Ìyálòrìsà/Babalòrìsà, determinará que esse Ogan (suspenso), deverá ser Confirmado (leia-se confirmado e não iniciado) – geralmente para o Òrìsà que o suspendeu. Daí a razão de na Bahia, por exemplo, um Ogan ser do Òrìsà Ògún (ele é filho de Ògún), mas ser chamado de Ogan de Omolu (pois, muito embora o Òrìsà dele ser Ògún, ele fora suspenso e, posteriormente confirmado para ser Ogan do Omolu de “beltrana”). O processo de Confirmação de um Ogan diverge demasiadamente do processo de iniciação (Ìyàwó).

Não posso aprofundar no tema, por tratar-se de Awo (segredo que não compete àqueles que não são iniciados). Mas um Ogan Confirmado, não saí à sala no “Arole Komurajo” (cantiga destinada à Ìyàwó). Há um conjunto de cânticos e rituais específicos para a Confirmação de um Ogan (que reitero, não se trata do “Arole Komurajo”). Caso esse Ogan, por exemplo, seja confirmado Alagbé, há ainda, outra seqüência especifica de cantigas; o mesmo ocorre para alguns outros títulos.

Quando pensamos em iniciação no culto aos Òrìsàs na África, não são encontrados indícios/relatos de alguma iniciação com o “modus” da Confirmação de Ogan no Brasil. Em verdade, esse tema é muito mais polêmico que parece. Quando pensamos em Confirmação de Ogan, temos que entender que esse indivíduo não está sendo iniciado em todas as etapas que a religião apregoa, dessa forma, jamais o Ogan poderá proceder a iniciação de um Ìyáwó.

Mas se na África, berço da cultura dos Òrìsàs não há esse processo, qual teria sido a razão do aparecimento deste no Brasil? Vejo como um fato histórico, liderado pelas Ìyálòrìsàs de outrora, à busca da manutenção da hegemonia da mulher nos cargos de liderança nas comunidades Nágò.

Quando da fundação das mais tradicionais Casas de Candomblé da Bahia, todas, sem exceção, tiveram o apoio religioso de homens (iniciados – porém não rodantes), exemplifico: Gbongbose Obitiko, Okarinde, Oje Lade, Oba Sanya, dentre outros. Entretanto, após a fundação dessas casas, para que não houvesse a concorrência masculina no sacerdócio, as Ìyálòrìsàs começaram a não iniciar homens (quer seja rodante, quer não). Contudo, a figura masculina permanecia essencial para o bom andamento da casa. Nesse sentido, como manter o homem na casa de Candomblé, com funções distintas, sem que esse se tornar-se Sacerdote futuramente e, por conseqüência, concorrente do poder supra-sumo da mulher? Criando a figura do Ogan (ou seja, realizando alguns rituais para que os homens não rodantes – pudessem ser partícipes de algumas atividades na casa).

Nessa busca contumaz, as mulheres do Candomblé da Bahia, cercearam da religião os homens rodantes (uma espécie de apartheid), configurando status e poder aos Ogans, figura criada pelas mesmas, - mas que não lhe ameaçavam na supremacia do Candomblé. À eles eram concedidas funções como Tocar Atabaques e Cantar. Razão pela qual, erroneamente, crê-se que somente os Ogans podem tocar atabaques.

Diante disso, o que posso afirmar é que, se não rodante e homem – independente de Ogan ou Iyawo, ele pode tocar sim atabaques. O que digo, mas por concepção religiosa minha, sem embasamento teológico algum, é que a privação em tocar atabaques deve ocorrer àqueles que são manifestados por Òrìsà. Essa óptica deve-se única e exclusivamente há eminente possibilidade de um Ìyàwó que manifeste Òrìsà, poder entrar em transe, durante a execução do toque. O mesmo emprega-se às mulheres, também, sem fundamentação teológica.

Por fim, apesar de distintos, não vejo como macular, o iniciado não rodante, denominar-se Ogan, sobretudo pelo vício de linguagem, fato que ocorre mesmo comigo. No entanto, é importante que todos saibam que são distintos, com funções distintas, com processos iniciatórios distintos!

Espero, com a explanação acima, tirar um pouco da dúvida de muitos sobre a questão!

Opotun Vinicius..
!

Postar um comentário

0 Comentários