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AS 16 CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA SER UM BABALAÔ.


 1. Amar, com devoção, a Deus e aos Orixás.

O verdadeiro sacerdote ama a Deus como seu Criador e vê nos Orixás os Seus representantes. Na concepção filosófica de nossa religião, o Criador está tão distante do nosso plano de existência que, por nossas próprias limitações, seria inútil desenvolver um culto direcionado diretamente a Ele. Desta forma, é através dos Orixás, seus representantes junto a nós, que podemos cultuá-lo de forma indireta, obtendo assim a sua proteção e demonstrando o nosso amor por ele.
2. Propagar o nome de Orunmilá.
Orunmilá é a representação individualizada da Sabedoria Divina contida em cada um de nós. Propagar seu nome, seu culto e a sabedoria que ele representa é a missão mais importante de seu corpo sacerdotal. Uma das formas mais corretas de cultuar e agradar Orunmilá é propagar seu nome e sua ciência.
3. Saber ver em cada coisa e em cada ser, uma manifestação do Criador.
Tudo o que existe no universo são diferentes manifestações da Divindade Suprema. Deus se faz conhecer através da natureza e, por este motivo, o babalaô a respeita em todos os seus aspectos. Os seres humanos são a manifestação por excelência da Divindade que se faz presente em cada um deles, dividido em miríades de partículas que, através da união dos homens, busca a Unidade Divina e sua plena manifestação no mundo material.
4. Respeitar as leis divinas e as leis dos homens.
A observância das leis é uma obrigação do babalaô. As leis de Deus vêm gravadas em nossos corações desde o nosso nascimento e nenhuma pessoa de bons princípios admite roubar, matar e atentar de qualquer forma contra estas leis que nos são legadas instintivamente. As leis dos homens buscam apenas regulamentar e decodificar as leis de Deus, criando punições materiais para aqueles que as infringem, embora se saiba que as punições espirituais deverão ocorrer inevitavelmente. O homem de cabeça ruim deixa-se levar pelos maus instintos e, olvidando-se do que lhe foi legado naturalmente como ensinamento, infringe as leis, roubando, matando e desrespeitando de inúmeras formas aos seus semelhantes e à Mãe Natureza. O sacerdote de Orunmilá, consciente disto, jamais se disporá a infringir os códigos da legislação divina ou humana.
5. Respeitar a todos os seres humanos indiscriminadamente.
Deus está presente em todos os seres humanos em sua partícula denominada “Iporí”. Para o homem, em sua limitação extrema, Deus é uma abstração complexa e, em decorrência desta mesma limitação, é impossível compreendê-lo ou pelo menos imaginar tanta grandiosidade. Uma forma bastante simples de amar a Deus é amando ao próximo como ensinaram os grandes Mestres e Avatares de todas as religiões. O amor pressupõe, antes de tudo, respeito profundo. “Amar é nunca ter que pedir perdão” afirmou um sábio.
O babalaô, possuindo plena consciência deste mistério, fará evidente o seu amor pelo próximo através do respeito que cada ser humano merece, sem que se observe sua classe social, condição econômica ou credo religioso ou político.
6. Ser honesto.
A honestidade é a condição primordial de um babalaô. O homem desonesto é indigno de confiança e, por conseqüência, deve ser apartado do convívio da sociedade. A honestidade não reside apenas na relação com o dinheiro e outros bens materiais, está relacionada, acima de tudo, na transparência de tudo aquilo que se faz em todos os níveis. Cobrar por seus serviços é um direito de todos, mas, independente do preço cobrado, o serviço deve ser de boa qualidade, integral e sem mistificações. Não se vende aquilo que não se pode entregar.
7. Ser sábio.
A sabedoria é adquirida na observância e análise de tudo o que existe, ocorre e pode ser imaginado. O sábio não necessita, necessariamente, ser um letrado, mas será sempre um intelectual. Paradoxalmente, nem todo intelectual é sábio e mesmo um analfabeto pode ser considerado sábio e, por extensão, intelectual.
Ser sábio é ter o dom de aprofundar-se na relação causa-efeito de tudo o que ocorre.
O saber desprovido de sabedoria é como uma arma que pode se virar contra quem a possui.
A lógica será sempre a ferramenta de trabalho do sábio que, com ela, penetrará no âmago do problema em busca da interpretação daquilo que se configura implicitamente, mascarado aos olhos do ser profano.
Os itans ou poemas de Ifá são portadores de orientações codificadas que só os sábios podem compreender e explicar. Uma das funções essenciais do babalaô é interpretar e revelar ao leigo estas orientações.
8. Ser receptivo aos ensinamentos.
A ciência de Ifá é a ciência da vida. Revela os mistérios mais intrincados e ocultos da existência cósmica em todos os seus planos.
Conhecê-la é conhecer os mistérios da vida e da morte, dominá-la é dominar os arcanos da sabedoria.
O babalaô deve ter um intelecto desenvolvido o suficiente para absorver e registrar tudo o que a ela diz respeito.
Não é bastante, no entanto, o conhecimento ritualístico mas, e principalmente, o significado do ritual, dos símbolos e de tudo o mais.
A compreensão dos mistérios e a interpretação de suas alegorias são indispensáveis para que o babalaô assuma toda a sua potencialidade sacerdotal.
9. Ser isento de preconceitos de qualquer espécie.
O preconceito, seja de que forma se manifeste, é um elemento desagregador.
A função do babalaô é reunir em torno de Orunmilá e dos Orixás, todos os seres humanos, independente de credo, nacionalidade, raça e condição social.
Agir de forma preconceituosa resulta sempre na obstaculização do objetivo final: a união de todos.
10. Saber ser seletivo sem melindrar.
Saber selecionar as pessoas que fazem parte do seu convívio é uma obrigação do babalaô.
A promiscuidade no relacionamento será sempre nociva ao bom desempenho das funções sacerdotais e deve-se ter em mente que “uma maçã podre contamina e apodrece todas as outras dentro do cesto”.
No entanto, esta seleção deverá ser feita de forma cuidadosa e diplomática sem que a susceptibilidade da pessoa indesejável seja ferida, e só deverá ser adota depois que todas os recursos de recuperação daquela pessoa tenham sido esgotados.
11. Possuir moral ilibada.
A moral do babalaô deve ser limpa e exemplar.
Não é digno de crédito, nem pode liderar um grupo religioso, o homem que se entrega ao vício, que se deixa dominar pela preguiça, que explora e abusa de mulheres ou pratique atos que o coloque à margem da lei dos homens.
É preciso estar atento ao fato de que a corrupção é um dos atos mais imorais que o ser humano pode praticar, assim sendo, o sacerdote será sempre incorruptível e jamais tentará corromper a quem quer que seja.
12. Falar somente a verdade e lutar por ela.
Para um babalaô a verdade estará sempre acima de qualquer outra coisa.
As mentiras, mesmo aquelas apelidadas de mentiras piedosas, sempre acabam sendo descobertas e o resultado é a desmoralização de quem dela fez uso.
“Falar a verdade, somente a verdade”, ordena um itan de Ifá do Odu Osá Tura. E o que é a verdade? A verdade é a palavra de Orunmilá atuando sobre a Terra.
13. Conduzir-se com retidão em todos os setores da vida.
O caminho reto é o caminho do bem. O caminho do bem é o caminho do verdadeiro sacerdote.
Aquele que se desvia do caminho reto tende a perder-se em sendas que podem, de forma ilusória, parecerem fáceis de serem trilhadas mas que, com o decorrer do tempo, configuram-se como tortuosas e garranchentas, impossíveis de serem trilhadas com dignidade.
O caminho errado, como determina o 8o Mandamento de Ifá, não oferece a possibilidade de retorno, é caminho sem volta.
14. Saber guardar segredo daquilo que é segredo.
O segredo é revelado ao iniciado e somente ele pode conhecê-lo.
Revelar segredos da religião corresponde a sacrilégio, a quebra de tabu. Mas nem tudo é segredo, nem tudo deve permanecer oculto do vulgo. Ao contrário, muitas coisas devem ser reveladas ao não iniciado para uma melhor compreensão da nossa religião e também como artefato de defesa contra a ação dos falsos ou maus sacerdotes.
15. Saber manter a calma e o equilíbrio.
O babalaô não pode, em nenhuma circunstância, perder a calma e o controle sobre si mesmo ou sobre a situação.
Ao lidar com entidades de diversas qualidades e hierarquias, poderá ser surpreendido por coisas assustadoras e ameaçadoras. Ainda assim, deverá manter-se calmo e dominar a situação e, para isto, possui meios e recursos que adquire na prática e na teoria. Mesmo em situações do quotidiano, a sua calma deverá ser mantida e as emoções controladas.
16. Ser “homem” no sentido total e mais amplo do termo.
A expressão “ser homem” tem um significado muito mais profundo do que pode parecer numa observação apenas superficial.
“Ser homem” é possuir todas as qualidades esperadas num ser humano do sexo masculino, admitindo-se aí os pequenos defeitos inerentes à natureza humana.
“Ser homem” é saber respeitar a mulher como representante do poder de procriar que garante a perpetuação da espécie humana e reconhecer, na sua aparente fraqueza, a força de que é portadora, em tudo superior à do sexo masculino.
“Ser homem”é, antes de tudo, saber respeitar a natureza num todo e a cada ser humano em particular.
“Ser homem” é saber agir dentro de todos os ditames anteriormente descritos sem que com isto tenha que violentar-se.
NOTAS
1 - Os mandamentos de Ifá nascem no Odu Ikafun e ninguém pode gabar-se de sua autoria. Os conceitos constantes do presente documento representam a herança moral que nos foi legada por nossos ancestrais, consistindo em 16 Mandamentos de Ifá transmitidos oralmente de geração a geração e que devem agora, chegar ao conhecimento de todos aqueles que, de alguma forma, se interessem por nossa religião. A tradução do documento, assim como a interpretação dos mandamentos e tudo aquilo que não consta do documento original é de responsabilidade do autor desta obra, Adilson de Oxalá, Babalaô Ifaleke, Omó Odu Ogbebara (Nota do autor).
2 – A benção da longevidade.
3 - Tipo de inhame parecido com pequenas batatas.
4 - Chamar a todos de “esúrú” é considerar todas as coisas como contas sagradas.
5 - Uma referência às aves noturnas e misteriosas que se nutrem de sangue.
6 – Benção, boa sorte.
7 - Da sabedoria oriental.
8 - Título daquele que resguarda os segredos da chefatura de Ifá.
9 - O afó é o local onde se fabrica o azeite de dendê em terra yorubá.
10 - “Ogboni” é um título que corresponde a juiz ou magistrado. Refere-se, sempre, a uma pessoa digna de respeito.

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