Era cercado de um verdadeiro ritual: álcool misturado na água, um óleo que minha vó Maria usava e que até hoje não sei que óleo era aquele, mas com certeza não era nada comprado pronto. Fico pensando, agora, se seria inxunda (enxúndia) de galinha preta ou qualquer sumo de planta, misturado com azeite doce, não sei... O fato é que, com aquele óleo, minha vó Maria, com o polegar direito, cruzava o peito e as costas da criança, também com os dedos polegar e indicador marcava covinha nas bochechas e acima das nádegas. As roupinhas e mesmo a criança e o quarto, eram incensados. Qualquer pessoa que passasse na rua sabia que um recém-nascido estava tomado banho, pelo cheiro de incenso, mas também pelo cheiro de escaldado de galinha. Ah!... Isso é que era gostoso! Todo dia, depois do banho do neném, ficávamos eu e meus irmãos no pé da cama esperando o bolo do pirão dado pela nossa mãe.
(...)
O umbigo da criança era curado com pó-de-quina, e enrolado para ficar protegido. Quando caia o umbigo da criança, era enterrado no fundo do quintal. Por isso digo que literalmente tenho meu umbigo enterrado aqui no Engenho Velho. Depois que caia o umbigo aí então se podia levar a criança para rua. A primeira saída era sempre para se levar o recém nascido ao Bonfim. Do mesmo modo, quando a criança começa a a se firmar em pé e dar os primeiros passos, era de novo levada ao Bonfim (...).
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Ouvi do professor que lá no Congo, entre as pessoas que mantém tradições, um monte uma elevação, uma colina, é lugar atribuído a Lemba, nome do n'kisi equivalente ao orixá Oxalá. Os pais marcam o desenvolvimento das crianças levando-as a esse monte, quando nascem, quando começam a andar, e também no rito de passagem na adolescência. Ouvindo isso lembrei como foi comum na minha infância a ida ao Bonfim para levar a criança nascida (...) ".
Makota Valdina.
Meu caminhar, meu viver.
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