A vida tem muitas formas e especificidades e para as pessoas, que socialmente são contempladas com o espírito, pode-se considerar que Deus é primeiro acolhimento e o último refúgio da condição humana. Nos últimos 20 anos tem crescido de forma estarrecedora e vertiginosa os casos de intolerância religiosa no Brasil. No ano de 2020 a disparada foi de 70% em relação a 2019. Há registro de crescimento de atos violentos de intolerância de até 30% em algumas regiões. Não se pode considerar essas práticas bestiais como um fenômeno social, agora se trata de um modo cultural de setores religiosos da sociedade brasileira e, em larga escala, acobertado pelas instituições nacionais, a despeito dos esforços reativos das autoridades policiais em coibir tais crimes. Desde a Constituição de 1981 o Brasil é declarado um Estado laico (artigo 11, 2º parágrafo). Já a Constituição Federal de 1988 é reta, sem subterfúgio, portanto sem margens para divagações: O inciso I do seu art. 19 dispõe que: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público ”. E no Artigo 5º, Inciso IV “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”... está sacramentada, na letra da Lei, um dos direitos fundamentais do povo brasileiro. Mas o que temos visto e vivido, de forma preocupante, são facções religiosas que tomam a teologia da prosperidade que garante que Deus reserva sucesso financeiro, saúde e realizações na vida para os cristãos, mas só e somente só, se esses cristãos mantiverem uma constante guerra espiritual contra a figura do diabo e seus representantes na Terra, e esse diabo pode estar nas representações culturais, em outras religiões e até mesmo na forma de organização familial, ou política. Esse tipo de pregação não raro conduz ao fanatismo e, consequentemente à intolerância, sobretudo religiosa. As práticas das diversas formas de intolerância religiosa alcançaram tal grandeza no território brasileiro, que põe em dúvida a competência das Instituições brasileiras de nos garantir os princípios fundantes do Estado de Direito. As ações organizadas pela principais facções evangélicas tomam feições de desafios às autoridades, se espalhando como um câncer vigoroso pelo corpo da Nação, em expressões como os “traficantes de Jesus”, nos ritos em que fuzis AK-47 e pistolas Glock, são abençoadas por pastores; pregadores invadem as redes nacionais de televisão destruído templos e símbolos de católicos, judeus e candomblecistas e o mais estarrecedor, realizando no campo real, destruição de bens matérias sobre propriedade privada, agressões físicas e ameaças de morte. Expressões plena de um estrupo religioso. Os compromissos do CEAP com a democracia e com a defesa dos Direitos Humanos estão mais do que consolidados, tanto pelas iniciativas de conciliação no território brasileiro, seminários, cursos de formação e campanhas contra a intolerância religiosa, com a realização da Caminhada pela Liberdade Religiosa, quanto no campo internacional pelo reconhecimento e apoio que recebe de instituições e de governos de outros países e com a busca pela promoção do Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Mas o avanço irrestrito a violência e intolerância religiosa nas faz temer uma reação em cadeia, por parte daqueles que têm sido vítimas de tanta arrogância praticada em nome da fé, pois sabemos, desde a Reforma e da Contrarreforma o quanto a violência e a matança podem ser realizadas em nome de Deus.
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