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50 anos de sem: João Alves Torres Filho, o João da Pedra Preta ou o Joãozinho da Goméia.

faleceu em São Paulo, no dia 19 de março de 1971, devido a complicações decorrentes
de um tumor maligno no cérebro. Na infância, João foi levado ao terreiro de
Candomblé porque os médicos não conseguiam identificar a razão de tantas dores de
cabeça que o garoto sentia. As dores de cabeça passaram depois da iniciação e ter
vivido 57 anos com “problemas na cabeça” foi, para a mãe de João, um milagre, apesar
dela nunca ter tido ligação mais estreita com a religião dos Orixás.
O pai-de-santo estava em São Paulo cumprindo compromissos religiosos no
terreiro do seu filho Paulo Sérgio Nigro, Gitadê, quando sofreu uma síncope cardíaca que o deixou inconsciente no dia 05 de fevereiro de 1971. Permaneceu no hospital
onde teve raros momentos de lucidez e não resistiu à operação que tentou retirar um
tumor maligno da região frontal do cérebro. Dona Maria Vitorina Torres, mãe de João
desejava que o filho fosse enterrado na Bahia, mas foi convencida que não haveria
melhor lugar para sepultar João do que Caxias, local que seus filhos achavam que o
sacerdote teria vivido seus melhores dias.
O corpo de João foi trazido de carro de São Paulo por um cortejo de dezenas de
carros, assim que chegaram à Caxias, Gitadê iniciou um movimento para que se
organizasse uma grande romaria até o cemitério “para que sua obra jamais fosse
esquecida”2
. O corpo ficou exposto durante 26 horas no terreiro num caixão dourado
para que os fiéis e curiosos pudessem dar o último adeus.
Os relatos e as imagens sobre a morte de João são fantásticos. Cortejo fúnebre
com dezenas de carros, presenças ilustres no velório e no enterro, choros compulsivos,
filhos que se jogavam na sepultura do pai-de-santo, outros filhos que entravam em
transe com seus Orixás no cemitério, e uma grande tempestade. As tais águas de
Março. Mas, para os religiosos presentes no enterro, era bem mais que um fenômeno
explicado pela meteorologia: era a certeza que o pai-de-santo era acolhido pelo Orixá
Oyá, Orixá das Tempestades, como é popularmente conhecida. O mar de lama e a
histeria foram tão grandes no cemitério que muitos desistiram de dar o último adeus a
João.
Nos jornais e revistas havia descrições e narrativas da trajetória de vida do pai-
de-santo baiano que morria célebre, não havia menção dos conflitos, das polêmicas e
das derrotas, havia apenas espaço para a exaltação do seu encanto e irreverência. No
momento de morte de pessoas públicas é comum a imprensa fazer uma recapitulação
da vida do morto, e com João não foi diferente. Fato curioso foi ter encontrado
pouquíssimas referências sobre a questão da sua homossexualidade, o que não
contradiz as reportagens dos anos 1940 e 1950 onde esse tema não aparece. O único
comentário que faz alusão a sua opção sexual é a descrição que o Jornal do Brasil faz:
“homem de fala mansa, gestos lânguidos, quase efeminados”3
. Mesmo assim, em
outros jornais observava-se que deixava uma senhora viúva na Bahia. No momento de
sua morte, João é negro, sua sexualidade não é discutida e não é mais aquele
“macumbeiro” semi-desconhecido do interior da Bahia.
O povo-de-santo também deu o seu depoimento nos jornais sobre Joãozinho
da Goméia. O Babalorixá Djalma de Lalú (Djalma Souza Santos) contou aos jornais
como João ajudava e acolhia em seu terreiro pessoas do candomblé que necessitavam
de algum tipo de apoio:"Eu estava numa fase ruim aqui no Rio e tive de fugir por causa de
perseguições de gente de outra seita. Tinha levado uma facada e fugi
com meu filho na Bahia. Quando cheguei lá não conhecia ninguém e
fui apresentado a Pai João na calçada. Contei o que estava se
passando comigo. Na mesma hora Pai João me botou dentro de um
carro e me levou para a Goméia com meu filho, onde fiquei cinco
anos. Nessa época ele nos sustentou. Pagava passagens, comida, me
calçava e até dos meus impostos ele cuidou. [...]".
Assim como Pai Djalma de Lalú, outros pais-de-santo bastante conhecidos no
Candomblé do Rio de Janeiro, como Seu Waldomiro Baiano e Pai Bobó de Iansã
também frequentavam o terreiro da Goméia e tiveram em João um apoio em suas
trajetórias de consolidação de seus terreiros na Baixada Fluminense, assim como
também ajudaram Joãozinho.
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