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O BRASIL DA IDADE MÉDIA , POR Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes.


 A data de 21 de janeiro, Dia Nacional Contra a Intolerância Religiosa, lembra o dia da morte de Mãe Gilda de Oxum, em seu terreiro no bairro Lagoa do Abaeté, em Salvador, no ano de 2001. Gilda teve seu terreiro invadido e depredado, seu marido foi agredido e seu culto foi interrompido o que mais a chocou, contudo, causando seu infarto, foi a manchete de um jornal: “Macumbeiros charlatões lesam vida e bolso de clientes”, trazendo sua foto e de seu terreiro.


Toda essa agressividade fazia parte da cruzada de fiéis de uma Igreja pentecostal no bairro onde se situava o terreiro da Mãe Gilda. Os fanáticos alegavam querer “eliminar o demônio” da região, porque, para eles, Mãe Gilda cultuava o diabo, o que justificaria o ataque brutal ao terreiro, com 30 anos funcionando. O que a matou, de fato, foram as calúnias no jornal.

Que mora no Estado do Rio de Janeiro sabe que essa perseguição à Umbanda e ao Candomblé é ligada diretamente aos resquícios da escravidão. É uma forma de racismo provocado pela leitura enviesada do Velho Testamento. E essas perseguições não ficam restritas às religiões de matrizes africanas. Atingem também católicos e muçulmanos, além de homossexuais.

A separação religiosa se acentuou no Brasil com o surgimento das igrejas da teologia da “prosperidade”, que prioriza o ataque (literalmente) às religiões que creem na comunicação dos espíritos com nosso mundo. Não custa lembrar, contudo, que Kardec, inspirador da Doutrina Espírita, desde o início enfrentou oposição da Igreja Católica, que chegou a emitir um auto de fé, procedimento da Inquisição da Idade Média. O Auto de Barcelona, em 1861, aconteceu com padres portando cruzes e tochas, multidão assistindo e a queima de 300 exemplares de vários livros, revistas e publicações espíritas, como lembra Regina Abrahão.

A Umbanda, por exemplo, tem características do catolicismo, indícios da Doutrina Espírita de Kardec, as culturas de matrizes indígenas e africanas, que professam a mediunidade com fé na reencarnação. Kardec respeitava todas as religiões, embora os seguidores do espiritismo fossem consideradas malucas ou vítimas do demônio pela sociedade conservadora da época.

Quem combate a intolerância religiosa deve lutar. Deve resistir a esses ataques dos fanáticos religiosos que nada mais são do que capachos dos ‘bispos’, ‘apóstolos’, alguns, vigaristas que invocam o ‘Senhor’, o ‘Deus único’, que tem raiva dos que não seguem sua cartilha, porque não contribuem financeiramente com suas ‘igrejas’.

No fundo, todos os intolerantes são iguais. O intolerante gosta de economizar tempo, porque consegue formar uma opinião sem fatos, mantendo as pessoas separadas. Como o preconceito tem mais raízes do que princípios, ele nada mais é do que uma opinião não submetida à razão. Deve ser por isso que o preconceito é o bom senso dos ignorantes.

Átila Nunes é deputado estadual pelo RJ e Átila Alexandre Nunes é vereador da cidade do Rio de Janeiro

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