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Candomblé não é colcha de retalhos!


 Ao longo de anos escuto sempre uma frase, frequentemente no imperativo, que soa em meus ouvidos como se fosse uma verdade: “Candomblé é uma colcha de retalhos costurada no Brasil”.

Não que seja feia a colcha de retalhos, mas sempre me soou um pouco pejorativa, uma coisa que é feita através de pedaços de outras coisas, virando assim uma grande coisa, que pode ser bela ou não, pode até parecer emendas sem tons de criatividade, algo que se copia e se replica, mosaicos talvez, que podem ser simétricos ou assimétricos, cuja beleza grandiosa fica a critério do observador.
De tanto me incomodar, perco o sono, e dano a escrever, meus neurônios pulam, brincam, brigam e como um solavanco, me impulsiono nesta escrita, cujo objetivo é tentar formar uma outra frase, um pouco mais complexa, com mais significado, e com a tônica de um grandioso artesão, sendo assim, vamos lá: “Candomblé é uma trama de linhas, ousadas, bem pensadas, trançadas por mentes e mãos brilhantes! Candomblé é a barafunda, é a asa de mosca é o Alaka!”
Sim, sim (como dizia minha saudosa Iyalorisa Gisele Omindarewa), Candomblé foi nascido há mais de 300 anos, por meio das rezas e prantos derramados nos navios negreiros, foi tecido pela saudade das famílias destroçadas pela ganância e a falta de humanidade, ele foi trançado por famílias distintas que se encontraram em uma terra desconhecida.
Da beleza do Alaka, das Barafundas e Asas de moscas, ele foi pensado, meticulosamente estruturado, por meio de conhecimentos milenares. Como dizia Roger Bastide: “Candomblé é uma religião, ele possui Teodiceia, Teogonia” acrescento a este pensamento o seu conjunto ritualístico exemplar.
Por meio de mentes brilhantes, este tecido rico em detalhes, luxuoso em particularidades foi criado. Nele aprendemos a nos doar, e a cuidar daqueles que batem a nossa porta.
Neste tecido criativo e digno de anos de estudo, vemos como nosso mundo foi criado, aprendemos como nosso espírito vive a dualidade de pertencer a dois mundos, o Orum e o Aye. Percebemos qual a nossa função, aprendemos a cultuar nossos antepassados de maneira ética e respeitosa, damos valor aos mais velhos e com carinho ensinamos nossas crianças.
Este Alaka, está Barafunda, tem conhecimentos incríveis, passados de famílias africanas legítimas, que no seu encontro no Brasil, nos ensinou a cultuar seus Orisa.
Sim, sim, cultuamos de maneira exemplar Orisa de diversas famílias, com uma sinergia que nos faz encontrar nossa força vital e o tão desejado Asé, poder divino que fica dentro de nós, e que quando despertado, irradia grandiosamente a todos que estão presentes, com em um só corpo, formado e solidificado por uma egrégora fenomenal.
No Candomblé vibramos com a dança, com as rezas e lindos cânticos. Nos deleitamos com a culinária sagrada, compartilhamos com nossos Orisa o que temos de mais sagrado, alimentos que são derivados da agricultura e da agropecuária, realizamos rituais para transmutar estes alimentos em força, em Asé.
Mas o nosso Candomblé não é feito de mídias sensacionalistas cuja intenção é o culto ao egocentrismo, ele é feito nos Oros extremante reservado, é continuado na cozinha de santo, e agraciado aos sons e rezas no quarto de Orisa, é aquilo que se vê no bailar sagrado de um Sire.
Vídeos e fotos não passam Asé, apenas retratam um momento que ao telespectador não toca, somente aqueles que estão presentes podem vivenciar a egrégora, que arrepia, nos emociona e enche nossos corações de paixão e equidade.
Vamos sentir mais o Candomblé, apreciar o Alaka reluzente, a barafunda e a asa de mosca sutil e bela!
Babalorisa Leonardo Efunbode.

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