O Ócio criativo dos artistas levam nossos filhos de santo a desacreditarem no transe.
Fechar os olhos, dar ilá, quebrar os ombros é parte da manifestação do sagrado, não é show!
Nós nos afastamos cotidianamente da presença do sagrado quando nos aproximamos dos quereres de explicações racionais para tudo.
Ninguém acredita mais na emoção, a gente perdeu a capacidade de se emocionar e se entregar.
A arte nos serve para essa conexão, por isso a importância das RELEITURAS e não da caricata imitação.
Há conflitos gritantes aos iniciados de hoje, conflitos que dificultam a entrega total, acredite!
Passei anos ao lado de uma pessoa que não "dava Santo" fazendo apontamentos cruéis sobre o estado do outro:
"esse está fingindo", "crianças não tem transe", "esse Santo é muito espetáculo", "não pode ser Santo não respondeu a cantiga de escárnio que cantaram, se fosse Santo teria saído da sala".
A dúvida, a repulsa, o escárnio, o desafio ao sagrado, onde fica a fé?
Com o tempo eu passei a pensar porque que alguém que não sentia nada deveria falar sobre o outro, só fala de algo quem tem e quem vive.
Quem não tem transe pode falar por exemplo da experiência de ser Ọmọ Òrìṣà e ainda ter fé diante as adversidades da vida, como sentir Òrìṣà de maneira intensa sem dormir; ver as pessoas em transe e não tê-lo abala a fé?
Eu não sinto Òrìṣà como você sente, meu transe nunca será igual ao de ninguém, Òrìṣà é um sopro de vida que para cada entrega, para cada dia apresenta-se de uma maneira.
O transe indiscutivelmente nos convida para a experiência de deixar a vida e as convicções da sociedade cruel e sem fé para uma viagem no campo da emoção, da entrega, da confiança. É o momento em que a sua natureza emanada se une à natureza do mundo.
Não é e não pode ser teatral, não precisamos homenagear Òrìṣà imitando um transe, abra os olhos, dance alegremente, vista as cores e os elemento, conte histórias com seu corpo dançante, saúde os espaços naturais de Òrìṣà!
Não reproduza o que temos no terreiro!
Permita-se! Entregue-se! Emocione- se!
Sinta Òrìṣà!
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