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Djedjê Carioca


 Para muitos, o Jéjì nasceu na Bahia ou no Maranhão ou, que todos Jéjì do Brasil seja descendente baiano. Falando de território nacional, temos 5 pontos independentes de culto: Bahia, Maranhão, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Sem aprofundar, a Bahia recebeu todos os ciclos de escravos, logo, abriga a maior concentração de Casas matrizes do Brasil, inclusive no Jéjì. Assim temos na Bahia:

- Hùnkpamè Danxòmè (Fon e Mina) em atividade
- Zógódó Bógùn Malé hùndò (Maxi) em atividade
- Kpòzènhèn (Aja / Xula) extinto
- Xwé Sèjáhùndé (Maxi / Nago) em atividade
- Kpòsú Gbèta (Nago) extinto
- Kpò Xwéji (Maxi - Savalu) em atividade
Temos 6 casas que são troncos independentes, exceto, a relação do Bógùn e Sèjáhùndé, que são de um mesmo ponto com direções diferentes.
O Jéjì do Maranhão como do RJ, nada têm a ver o baiano, pouquíssimas são as coisas em comum, por exemplo, objetos. O panteão baiano em si não é homogêneo e comparando com o carioca e maranhense, temos três conjuntos distintos, com características próprias.
No Rio de Janeiro, a primeira casa como instituição candomblé, foi uma casa Jéjì, e não Ketu ou Angola, porém, sabemos que, os Fons e todas etnias do atual Benim, eram muitos fortes e por isso poucos vieram e só chegando ao Brasil perto do final do comércio legal dos escravos, sabido que mesmo com a proibição, 1850 com a Lei Eusébio de Queiroz. Por volta de 1845, Adankpàn Nòwèjí Akínsínu Gbawu, mas conhecida como Gàyákú Rozena, chega ao Rio de Janeiro. Em 1864, é a data que finado Agenor Mirando cita em seu livro como a fundação do terreiro, lembrando que ele conheceu "Tia Rozena", assim que ele a chamava. A origem dela é curiosa, ela é uma Alladanu, mas não é uma Ajanu ou Tadanu, sequer outra etnia comum do Allada, a família dela tem sangue Maxinu, porém eram moradores de lá. Algum ancestral próximo, avô ou bisavô, mudou-se para lá, mas a identidade Maxinu ainda estava presente nela, assim, entendemos que a distância do ancestral que levou a família, não estava tão longe assim para as décadas ou século apagarem.
O Kpòdaágbá, que teria uma tradução de >> Kpò - local de reunião, tronco / daá - patriarca / gbá - senhor honorífico, mais velho, grandioso = em suma, em uma tradução significativa seria: Local sagrado do grande patriarca ou O grande patriarca está aqui, é cultuado aqui << Essa variação da direção de leitura é considerada por dois aspectos, primeiro, a Língua que pode ser Maxígbé, Fòngbé, Ajagbé ou um mix com Yoruba. Também, temos que considerar que ele estava no Brasil e assim como em quase todas as casas, as palavras são na língua nativa, mas a forma de ler é em português. A casa é um templo dedicado a Sakpatá, porém... o Tòxwyò da casa é Gbafònú Dèká, que é ligado a Sakpatá. A serpente cultuada na casa é Danjègbè, vemos outra vez a ligação com Sakpatá na palavra "Jè'.
A casa tem seu panteão totalmente diferente do que se via na Bahia, e assim, seu Agenor cita: (...) o terreiro de Tia Rozena é onde vi Jéjì de verdade, muitos cânticos e danças diferentes (...). O terreiro não tem as cerimônias típicas baianas como: Boyta, Sógbó'adó (Fogueiro de Sógbó). Lá se faz o Àndé ou Àndé'yí, cerimônia de Azònsú que Jò tem vital participação. Se faz a festa de Azanyadó que é louvor a Danjègbè com a troca das águas, a cerimônia Gòzinxò.
O Kpòdaágbá hoje está inativo, mesmo com a sucessão de Mèjitò Glorinha "Tokwenu". Rozena era Gayaku, Adelaide ganhou o título honorífico de Mèjitò, esse título no Brasil é exclusivo do Kpòdaágbá e só mulheres na tradição podem ocupar, não tendo nada a ver com ser ou não de Dan. A ligação com Dan trata-se do axé ter Danjègbè que está ligada com a procriação, multiplicação, é Danjègbè que dá o título, abençoa, não querendo dizer que a pessoa é de Dan. Ela também era conhecida como Ontinha.
A partir da morte de Gayaku Rozena, o Kpòdaágbá não teve seu seguimento Jéjì que era sua tradição, mudando algumas coisas com a proximidade com o Opo Afonja. A primeira casa foi no Bairro da Saúde, depois foi para Cavalcanti para finalmente ir para Coelho da Rocha, sendo assim, vizinha ao Opo.
Na década de 40, Mèjitò começa dar bastante ajuda para um jovem raspado que veio da Bahia, Antônio Pinto, conhecido como Tatá "Fomotinho", no RJ, tinha algumas casas Ketu e sua maioria era do culto de Angola e Umbanda. Jéjì só do Kpòdaágbá! Passou a existir um novo culto misto no RJ, a casa de Tatá "Fomotinho", que tinha sua base no Jéjì e Angola, onde se criou, teve a princípio abertura nas casas Ketu e assim juntou tais conhecimentos até conhecer Mèjitò por Joana da Cruz Omolusi. Agora, tínhamos no Estado, o Jéjì não mais "puro" do Kpòdaágbá devido a mistura com o Opo e a casa de Tatá Fomotinho.
Jéjì Carioca então era (Década de 20-30):
- Kpòdaágbá de Rozena >>> Kpòdaágbá de Adelaide
- Kwé Sèjá Nasó de Tata Fomutinho
A partir de desentendimentos internos após morte de Mèjitò com relação à herdeira da casa, Natalina de Osun, que já tinha seu barracão de Umbanda, organizou sua casa e fundou o Kwésínfá que tem uma tradução bem fácil pra quem domina o Fòngbé, quer dizer: Casa da água calma, água boa... >> Kwe - Casa / Sin - Água potável / Fá de Fifá - Boa, Bom, Agradável <<
Mudança no Jéjì Carioca, agora teríamos (Década de 50/60):
- Kpòdaágbá de Rozena >>> Kpòdaágbá de Adelaide >>> Kpòdaágbá (inativo)
- Kwé Sèjá Nasó de Tata Fomutinho >>> Descendentes
- Kwésínfá de Natalina
Com a herança de Glorinha, o Kpòdaágbá ficou inativo, primeiro por a mesma ser muito nova, e depois, a casa nunca mais reabriu, apenas para algumas coisas internas, mas em Pilares. Assim na época, Jéjì mesmo somente no Kwésínfá de Natalina, Tata, sabido que fazia o chamado Nagô-Vodun. Com a morte de Natalina, só restou aqui Tata e seus descendentes e algumas pessoas indo ao Bógun... mas mesmo assim, ainda bem misturado.
Década de 70, 80 e meado de 90, o Jéjì passou por um período complicado de identidade. Muita mistura, sem referências, sem acessos, Tata e seus descendentes procuraram o Sèjáhùndé, Gamo Lókósí vem ao RJ, Alda e Alaíde tentam implantar o Sèjáhùndé aqui, mas sem muito sucesso ou sem muita atenção.
Em 1994, Neuza Sógbósi abre o Kwé Dangbanjiha, em Sepetiba. Em 1995, Helena de Dan, irmã de santo de Neuza, reabre o Kwésínfá, porém com influências diferentes. Neuza foca mais no Jéjì mais puro, saindo um pouco do Kwésínfá, voltada para o Kpòdaágba, e Helena segue os moldes do Kwésínfá.
Temos o Jéjì ressurgindo no RJ...
- Kwé Dangbanjiha de Neuza
- Kwésínfá de Helena (Reabertura)
Os nagô-vodun (descendentes baianos)
- Descendentes de Tata (Djalma, Jorge e Zezinho, os principais)
- Luiza começa chegar no RJ, ou suas influências, com a casa que ela fundou independente de qualquer axé, pois a mesma foi iniciado na Muritiba (Ketu), andou pelo Sèjáhùndé, onde seu pai era Kpènjigan, também andou no Bógun. Não se manteve fixa, assim fundou sua casa com o seu conhecimento adquirido, o Huntólóji, esse era o nome do pai como Ogan.
*Obs: chegou ao RJ para assumir a delegacia de São João de Meriti, um delegado chamado Rafael que tinha a boca torta, ficou conhecido como Rafael Boca Torta, provavelmente, de acordo com sua prática de culto, eu concluo que ele era descendente do Kpòzènhèn, praticante do Mudúngbi. Adepto do Nagô-vodun, e com ênfase na família do trovão e do culto de Egungun.
Hoje, em 2017, a situação voltou às escuras. Temos apenas Helena como Jéjì Carioca, muitos descendentes de Tata que não seguem o que ele deixou e fazia, e também não fazem como é no Sèjáhùndé. Apenas a roça de finado Zezinho que segue fielmente o que Tatá fazia, hoje pelas mãos de Doné Ana. Dizendo sobre Sèjahùndé, a casa do Doté Dado Olisasi seria uma representante mais fiel à matriz. Algumas casas descendentes do Bógun, mas que também não fazem como lá, salve a casa de Doné Margarida. Muitos descendentes do Huntólóji que fazem o mix que Gayaku Luiza fazia, em suma, o jéjì carioca hoje tem dois troncos, Senhora Helena de Dan e Mèjitò Glorinha ainda está inativa com o Kpòdaágba, ela seria o topo desse tronco.

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