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Funcionário denuncia rede de supermercado por intolerância religiosa: ‘Perdi meu emprego por causa da minha fé’.


Funcionário denuncia rede de supermercado por intolerância religiosa: ‘Perdi meu emprego por causa da minha fé’.

Rafael da Silva Oliveira, de 37 anos, ainda sofreu uma série de retaliações e, ao questionar, foi demitido. O supermercado nega.

A rede de supermercados Mundial está sendo acusada de intolerância religiosa pelo ex-funcionário Rafael da Silva Oliveira, de 37 anos.

Ele, que era locutor da rede até a quarta-feira (7), diz que os problemas que culminaram na sua demissão começaram no dia 17 de junho, quando chegou à loja de Ramos, na Zona Norte do Rio, onde trabalhava há 11 meses, usando uma máscara com a imagem do orixá ogum estampada.

A rede de supermercados nega que a demissão tenha a ver com motivos religiosos.

Rafael foi chamado pelo gerente da unidade, de nome Luciano, para uma área reservada e, ao chegar ao local, foi abordado da seguinte forma: “Que p* de máscara é essa? Passa já no RH e pega uma máscara decente para trabalhar”.

O locutor diz que tentou questionar porque a máscara dele não poderia ser usada no trabalho, visto que outros funcionários também usavam equipamentos de proteção individual com frases religiosas, menções a Jesus e a times de futebol, e se essas pessoas também tinham sido chamadas atenção.

Cinco transferências e oito horários em menos de um mês
Rafael conta que não teve resposta, mas começou a sofrer retaliações no mesmo dia. Ele diz que momentos depois, recebeu uma advertência por ter feito uma hora-extra de três minutos dias antes, e que no mesmo dia foi transferido para a unidade do mercado no Engenho Novo, também na Zona Norte.

Dias depois, nova transferência: para a filial da Santo Afonso, na Tijuca. Nesta, ele trabalhou apenas uma hora e foi mandado para a unidade de Vaz Lobo, depois para a matriz e novamente para a Santo Afonso.

“Ao todo, foram cinco filiais e oito trocas de horário. Eu não tinha mais vida. Teve um dia que eu acordei cedo para pegar no trabalho às 10h, mas um coordenador me ligou para dizer que seria às 13h”, conta ele que começou a ter crises de ansiedade por causa da represália sofrida na empresa.

Rafael procurou o RH da empresa para poder tentar fixar seu horário. Ouviu que nada poderia ser feito, que os funcionários são contratados para ficar à disposição da empresa, e pediu então para falar com a assistente social.

O pedido foi no dia 2 de julho e, no último dia 7, Rafael foi encaminhado para a matriz do supermercado para assinar sua demissão. Ele conta que ao questionar porque estava sendo demitido, ouviu apenas que deveria assinar o documento e ir embora. Neste momento, passou a ser coagido por seguranças à paisana que se postaram atrás dele e o mandavam assinar logo.

Demissão e crise nervosa

“Eu disse que ia assinar, mas colocaria uma ressalva no documento sobre tudo o que estava acontecendo. Eu o fiz, tirei uma foto com o meu celular – pois não me deram qualquer cópia de documentação -, e quando eu fiz menção de ligar para o Disque 100, que trata da violação dos direitos humanos, os seguranças começaram a me ameaçar. Eu saí correndo, me tranquei no banheiro. Eles ficavam socando e chutando a porta para eu sair de lá e eu tive uma crise nervosa porque não sabia o que iria acontecer comigo”, diz Rafael, que conseguiu pedir ajudar e foi levado para um Unidade de Pronto Atendimento.

Rafael registrou ocorrência por intolerância religiosa contra os Supermercados Mundial na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância nesta quinta-feira (8), e está tendo assistência jurídica da equipe do relator da CPI que investiga intolerância religiosa no estado, o deputado Átila Nunes.

“Perdi meu emprego por causa da minha fé e só quero que seja feita justiça. No começo, fiquei quieto, não denunciei porque precisava muito do emprego, ajudo minha mãe, preciso complementar minha renda. Mas, mesmo quieto, fui perseguido e tratado assim. Quando o Mundial foi conivente com tudo o que aconteceu comigo, são coniventes com o mesmo crime que o gerente Luciano cometeu”, diz.

O G1 pediu um posicionamento da rede de supermercados, que afirmou em nota que não compactua com qualquer ato de discriminação ou intolerância religiosa. Além disso, respeita a obrigatoriedade do uso de máscaras por todos os colaboradores, e que elas precisam respeitar normas técnicas dos órgãos oficiais de saúde e um bom estado de higiene.

“O colaborador mencionado não integra mais a equipe do Mundial. As razões do desligamento do mesmo não possuem qualquer relação com o fato por ele narrado”, encerra a nota.
A ocorrência será investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

"Eu só quero justiça. Justiça e trabalhar para continuar ajudando minha mãe", diz Rafael.



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