A sexta feira santa não é uma data umbandista e sim católica, mas a umbanda tradicional é cristã, e une em sua liturgia fundamentos de outras religiões, sempre adaptando estas liturgias aos seus fundamentos que são guiados pelas entidades regentes de cada casa.
Jesus, o maior médium que já existiu, pois curou pessoas intermediando a força de seu pai, Deus, através do passe mediúnico, quando questionado pelos fariseus sobre sua divindade respondeu: São deuses, todos é, basta ter fé no Pai e farás o que fiz ou até mais, está na bíblia. É este Jesus humilde que morreu por nós quem é celebrado nestes atos da sexta-feira santa, num rito que segue rigorosamente, e também na humildade, os seus ensinamentos.
Ao final destes sagrados rituais, quando os raios de sol não mais penetram e a noite já se faz surgir, é hora de acionar outras forças que complementarão o ritual de fechamento de corpo dos médiuns, é hora dos guardiões, dos Exus e Pomba Giras, que vão finalizar este rito trazendo sua proteção já bem conhecida dos umbandistas, contra qualquer força de espíritos mal intencionados, encarnados ou não, completando assim uma verdadeira blindagem que garantirá a seqüência de um novo ciclo de trabalho de caridade desta família.
Entrar no terreiro numa sexta feira da paixão é ver muitos médiuns de branco, de pés descalços sendo lavados fluidicamente pelo chão sagrado da sua igreja-terreiro, ainda é o sol da tarde que entra pelas telhas e ilumina os galhos de ervas de “para-raio” amontoados, que aguardam as benzeduras do preto velho, para enfim estar totalmente pronto para seu uso ritual, o sacudimento de limpeza que antecede o ungido.
No dia de trabalho de fechamento de corpo, neste trabalho as cambonas já prepararam o tacho de óleo de oliva e o alho, que também serão mirongados pelo preto velho e ungirão todos os membros da comunidade, com o sinal da cruz na fronte, no peito, nas mãos e nos pés, sinal feito por cada presente, uns nos outros, numa simbologia única da casa, que representa a união e o próprio surgimento do Barracão.
É um dia em que os pais de santo e médiuns passistas, sem incorporação, realizam um ritual muito importante, que antigamente era realizado por benzedeiras católicas, em suas casas, como legítimas mediadoras das forças de Deus e seus santos representantes. O médium tem esse poder, ele é, acima de tudo, um benzedeiro.
Em certo momento se colocas nos filhos o contra-egum que os protegem de quinta santa até o meio dia do sábado de aleluia, quando os santos são acordados e convidados a retornarem a terra , de volta as suas funções de amparo e socorro aos filhos, após estes ritos uma grande limpeza e defumação ao terreiro , arriada de oferendas e uma grande gira festiva , pois o ano se incia após a sexta feira santa !
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