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Angorô.


 Sei que os intelectuais da religião, vão me dizer Hongolo. Eu vou pedir desculpas a eles, e escrever Angorô em todo este texto, pois foi assim que vi meus mais velhos falando, foi assim que aprendi a amar e respeitar esta divindade. Para eu escrever com o sentimento devido, cometerei este erro gramatical grave na visão de alguns, mas preciso me lembrar das pessoas dessa divindade, e todas que eu conheci e que fizeram santo antes de mim, falavam assim.

Arco-íris que brota do céu em dia de chuva. Água da chuva refletida no raio do sol. Por isso elas pegavam uma quartinha de água e derramavam no meio do barracão na hora de cantar pra este santo. Ai cantavam : ♪♫♪♫♫♪ Ai, ai, ai ai Vulaio..... Ai um dia o Mestre disse: Entendeu menino? Entendeu o que Mestre? Perguntei. A cantiga fazendo valer o ato?
Não. Claro que foi minha resposta. Ai veio ele e sua sabedoria:♫♫♫♪ Ai ai ai ai Choveu. Olhe a água ai no chão. Choveu, agora esse água se refletiu no raio do sol e o arco-íris, vai aparecer. Isso tudo era tão simples, mas tão lindo e tão profundo. E não é isso mesmo que acontece. Vem do céu aquela força abstrata, linda e carregada de cores, mistério e ambiguidades.
Angorô desce do céu feito arco-íris e toca a terra feito serpente. Energia que muta, que transforma, que pode ser um ou pode ser outro, ou outra. O arco-íris, a serpente e nessa sua dualidade já nos ensina que artigo masculino e feminino é um problema da nossa inferioridade humana.
Angorô, que é vapor, que é luz, que é água, que é cobra e que é homem; nos mostra de quantos elementos somos feitos, e como somos complexos e amarrados em formas e preconceitos que a própria sociedade nos impõe.
Angorô dá um dos maiores exemplos que deveríamos seguir. “Precisamos ama-lo, sem compreende-lo”. E não seria isso uma máxima da boa relação humana? buscar o amor e não a compreensão?.
Angorô que é louça, que é barro e que é ferro, que é quartinha e que é poço, e que é fonte.
Angorô que é tão colorido que fica lindo de branco.
Nós, que tanto nos assustamos com as observações de seus filhos, que chegam a ser quase, botes de franqueza, em meio a um mar de hipocrisias, que vivemos todos os dias.
Angorô é um símbolo da esperteza e da perspicácia.
Angorô, que por mais estrutura que seu candomblé tenha, prefere o lado de fora.
Angorô é liberdade. E liberdade é tudo que nosso povo precisa.
Precisamos de Angorô em nossas vidas.
Precisamos de fato sermos libertos.
Em tempos como os agora, eu clamo por Angorô!!!

Belo Horizonte, 10/10/18
Texto: Marcio Tata Kamus'ende
Pintura: Kota Mutas´itala

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