PARA LER, REFLETIR, ANALISAR, EM HONRA E RESPEITO ÀS NOSSAS TRADIÇÕES CULTURAIS E RELIGIOSAS DE MATRIZES AFRO
As Tradições Culturais e Religiosas de Matrizes Africanas, no Brasil foram denominadas de CANDOMBLÉ, (Corruptela da palavra KONDOMBELELE, que quer dizer “FESTA PROFANA POPULAR”, nome de origem árabe dado por comerciantes daquele país, quando à época da escravidão vinham ao Brasil para a compra das ditas pesssoas escravizadas.
A história nos mostra que de meados do século XVI à meados do século XVIII tivemos no país um grande número de pessoas africanas traficadas que atingiram a casa dos milhões, tornando a população negra muito superior a população dos brancos colonizadores escravagistas, sendo que a grande maioria de escravos aqui chegados dos Portos de LOANDA e da GUINÉ BISSAU, eram de origem BANTU de diversas regiões, de modo que os BANTU começando pelos chamados KALUNDU, foram a base da formação e implantação Cultural e Religiosa do que hoje chamamos de CANDOMBLÉ.
Durante pequisas realizadas em diversos territórios africanos, podemos observar que nos locais de cultos às ancestralidades divinas e até mesmo ancestrais genealógicas, os africanos separam os rituais litúrgicos de preparação e adoração, de modo que na cultura Yorubá/Nagô a cabeça (ORI) e nas Culturas Bantu a cabeça (MUTUE), são consideradas muito mais importantes que as próprias divindades (ORIXÁ/VODUN/MUKISI/NKISI), pois se referenciam a dizer que a CABEÇA (ORI/MUTUE) é uma divindade e, justamente na cabeça que será a morada do ORIXÁ/VODUN/MUKISI/NKISI) de uma pessoa e essa outra divindade que ocupará a cabeça, será responsável pela existência individual, pelo período de vida física, razão pela qual nos cultos das Tradições de Matrizes Africanas, nada pode nem deve ser feito para as divindades individuais, sem antes haver os rituais de preparação e fortalecimento da cabeça (ORI/MUTUE), haja vista, ser considerado que a cabeça se forma e nasce primeiro que o ORIXÁ/VODUN/MUKISI/NKISI.
A Consagração para fortalecimento da CABEÇA, recebe nomes diversos em razão de diferenças dialectais das línguas regionais, faladas até as vezes de um bairro ou distrito para outro, mesmo que não muitos distantes, com muitas variações, contudo no Brasil, esse ritual ficou conhecido por tres nomes comuns entre sí, OBORI, EBORI, KIBANE, que sacralizam o ato de alimentar a cabeça como culto ao ORIXÁ EXISTENCIAL (individual)DE UMA PESSOA.
Nos territórios YORUBÁ é dito que essa divindade formadora das cabeças HUMANAS E ANIMAIS, ainda na vida intra uterina se constitui de tres divindades CRIADORAS DO NOSSO UNIVERSO, razão pela qual são chamadas de ORIXÁS FUNFUN, (OBÁTÁLÀ, IYEMOJÀ ILARE, OXUM IPONNUN), razão pela qual o culto de alimentação da cabeça antecede a todo e qualquer outro ritual a vir ser realizado, pois a cabeça nasce antes da própria criança nascer essa só se tornará apta à vida, depois de respirar pela primeira vez (OFURUFU para os Yorubá Nagô e MUIHA NZAMBI para os Bantu) o hálito divino e supremo, que concede o direito e poder à vida.
Nos territórios Bantu aangolanos de Luanda, Luba, Thokwe, Kokwe, Bakwe, Lunda/Kioko, Tanzânia, Kuanza do Sul e Norte, Moçambique, Luena, Kasai, Bawolo, Madagascar (Malgaxe),Nammíbia, Camarões, entre outros, também extendidos ao Congo, como Brasa Ville, crê-se que a divindade responsável pela criação das cabeças humanas e animais chama-se KILAMBA KIAXI, recebendo rituais parecidos, mas não idênticos aos de culturas Yorubá/Nagô.
Próximo a Tanzânia, local principal de culto a divindade KILAMBA KIAXI, o principal rio da região recebe o nome dessa própria divindade, o que sacraliza as águas daquele rio, de modo que ninguém, com exceção dos sacerdotes e sacerdotisas, podem se utilizar ou tocar nas suas águas.
Esclareçamos que o ato sagrado do ritual de alimentação à cabeça, para consagração e fortalecimento da mesma, se realiza para a pessoa e não para um orixá específico, como temos visto em postagens na Internet que relatam Obori para como exemplo, Ògun, Oxossi, Oxum, Iyansan, etc, bem como Kibane para Nkosi, Mutakalombo, Kisimbi, Kaangu, etc, haja vista, como foi escrito acima, esse ritual de consagração e fortalecimento da cabeça, morada da divindade individual formadora da cabeça de uma pessoa, se realiza para o bem estar físico e espiritual de quem se submete ao ato, independente de ser iniciado ou confirmado nas Tradições Africanas, como fortalecimento para uma cura de uma doença, para realizações melhores da vida material, sentimental, profissional, familiar, em busca da saúde, paz, vitórias, conquistas favoráveis, entre outras necessidades pessoais, bem como, para reharmonização, rejuvenescimento e reenergização necessarios para o equilíbrio físico e espiritual.
Esclareçamos também, que o ato do OBORI/KIBANE, faz parte dos RITUAIS DE INICIAÇÃO e CONFIRMAÇÃO, porém, naõ podem e nem devem ser vistos ou considerados como FEITURA ou CONFIRMAÇÃO, pois para essas realizações, os rituais requerem muito mais diasde recolhimento aos recintos sagrados do HONKÓ/NDEMBURU e muitos outros atos litúrgicos de complementação e sacralização.
Procuremos pesquisar, estudar cada vez mais, em respeito aos nossos ancestrais, que no Brasil sob intensas dores e sofrimentos, nos deixaram um enorme legado histórico, imaterial de uma Cultura Tradicional Milenar, de modo que não cabe à nínguem modificar ou criar rituais adequados aos seus próprios critérios, contudo, tem-se o dever de aprimorarmos cada vez mais os conhecimentos necessários à uma boa prática respeitosa e salutar para com todos os que seguem nossas Tradições Religiosas de Matrizes Afro.
AUTOR: PROFESSOR TATA MAGANZA ALFREDO ANGELO DE KATENDE – CEAB/PROEPER/CCS/UERJ
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