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Feliz ano novo de 2021 e feliz ano vigente de 10.063 segundo o calendário Yorubá!


É com grande expectativa e esperança que iniciamos o ano de 2021 e transitamos em vigência o ano de 10.063 do calendário que rege as práticas de Ifá e Orixá.
Como determina a tradição Yorubá, em todos os anos, nas primeiras horas do 1º domingo do mês de Junho, cidade de Ile Ife (capital Yorubana), Estado de Oxum, na Nigéria, o Odu (do ano) 10063/2020 - 2021 foi revelado no tapete do templo Oke Itase pelas mãos do principal sacerdote de Ifá/Orunmila (orixá da divinação) do mundo, sob os testemunhos de Babalawô s, seguidores de Ifá, seguidores de orixá, da Nigéria e diversos outros países. O odu que regerá o novo ano nos revela o conhecimento das características e conjunto de práticas a serem seguidas: se o odu tem caminho para sorte (Ire) ou negatividade (ibi). Sendo assim é avaliado, quais os caminhos, quais os tabus que a comunidade terá que respeitar e quais os ebós precisarão ser feitos para que os adeptos possam atrair o caminho de sorte ou trabalhar da melhor forma a negatividade anunciada.
O Odu Ogbe Otura (Ogbe à direita e Otura à esquerda) é o odu lançado para este ano que veio em negativo para Iku (morte). Este odu nos aconselha a nos guiar contra a morte e o ebó é recomendado para evitá-la. Este odu também fala que devemos apaziguar a nossa cabeça, do respeito que devemos ter com as mulheres, principalmente com a mãe ou as mais velhas da família. Do triunfo das mulheres em vários aspectos e da regeneração que virá através das mãos delas, aconselha aos sacerdotes e sacerdotisas que deverão ter a responsabilidade em cada vez mais unir as pessoas. Ifá aconselha à todos a não utilizar da mentira, não ser avarento e a ter perseverança. Que as ações de agora deverão ser pensadas para que no futuro não venhamos sofrer nas mãos dos inimigos.
Os seis dias que antecedem a divinação (processo de consulta oracular) são marcados por preparativos com vários rituais, orôs, cerimônias ancestrais milenares, passadas por gerações que tiveram início em tempos imemoriais e seguem em continuidade até os dias de hoje.
Em terras brasileiras, de acordo com as tradições centenárias das religiosidades afro brasileiras, em especial o candomblé, as casas tradicionais da Bahia consultam ao oráculo na virada do ano. Pelas mãos dos sacerdotes e sacerdotisas, através do merindilogum (jogo de búzios) que revelará o orixá ou orixás que regerão o ano para o seu Ilê Axé, iniciados e adeptos ligados a ele durante todo o ciclo que acaba de se iniciar. Nunca foi da pretensão desses sacerdotes e sacerdotisas tradicionais virem a público e dizerem que suas previsões são de territórios alheios. Tudo gira em torno de suas comunidades preservando a humildade postura, essa esperada pelos mais antigos. Um exemplo de humildade e seriedade ficou marcada em uma entrevista que Mãe Stella de Oxóssi (in memorian) – Iyalorixá do Ile Axé Opo Afonja concedeu ao instituto Géledes quando lhe foi pedido uma previsão para o Brasil sobre quem regeria o ano de 2012:
“ A pergunta correta não é qual o orixá que rege o ano e sim qual o orixá que rege o ano para aquelas pessoas que cultuam estas divindades e estão vinculadas à comunidade em que o Jogo de Búzios foi utilizado. Se isso não for bem esclarecido e, consequentemente, bem compreendido, parece que todos os sacerdotes erram em suas respostas, uma vez que uma Iyalorixá diz que o orixá do ano é Iyemanjá, enquanto outra diz que é Oxum, ou um Babalorixá diz que é Oxossi. Mesmo correndo o risco de o texto ficar enfadonho, insistirei em alguns pontos, a fim de elucidá-los melhor. No nosso Terreiro, o Ilê Axé Opo Afonjá, o regente do ano 2012 é Xangô. A referida divindade, que se revelou no Jogo feito por mim, não está comandando o mundo inteiro, nem mesmo o Brasil ou a Bahia. Ela é o guia das pessoas que, de uma maneira ou outra (mais profunda – como é o caso dos iniciados; ou mais superficial – os devotos que freqüentam a “Casa”), estão vinculadas a mim enquanto Iyalorixá, ou ao Terreiro em questão.”
Além da prática do jogo de búzios, existem outras formas que são utilizadas para saber o que nos aguarda em um ano vindouro. Sacerdotes de alguns setores da Umbanda se baseiam no dia da semana em que o ano se inicia, a exemplo de 2021 que iniciou em uma sexta-feira, dia consagrado a Oxalá. Alguns sacerdotes utilizam a soma dos algarismos do ano, outro exemplo: 2+0+2+1 = 5 a soma dos algarismos do ano de 2021 resulta no número cinco, número de odu em que o orixá que fala mais alto é Oxum.
Sem dúvida, a maior importância de sabermos que temos um calendário de 10.063 anos em vigência, é saber que somos uma das maiores e mais antigas civilizações do mundo e resistimos às interferências dos processos colonizadores e diaspóricos africanos que trouxeram ao continente americano milhares de africanos e africanas dentre eles: reis, rainhas, sacerdotes e sacerdotisas de Ifá e orixá, que lutaram muito para sobreviverem, manterem suas identidades e práticas culturais e espirituais que ligam seu povo com Deus
Cada prática que aqui ficou, busca divinar de acordo com os seus ensinamentos ou da forma em que lhe foi conseguido preservar o conhecimento através de suas resistências. Querer invalidar essas práticas é o mesmo que colonizar o outro. Portanto, todas as experiências religiosas de matrizes africanas que se estabeleceram no ocidente e seguem o calendário gregoriano são importantes e nenhuma delas contém uma única verdade superior à outras. As experiências são diversas e merecem o nosso respeito.


 

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