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SOBRE A PROCEDÊNCIA DO NOME "XAMBÁ"



Segundo consta nos documentos a que se teve acesso, o termo Xambá teve sua primeira aparição com os "povos que habitavam a região ao norte dos Ashanti e limites da Nigéria com Camarões, nos montes Adamaua, vale do rio Benué", que eram designados de Xambá ou "Tchambá", sendo este o nome também dado a várias famílias daquela região, que chegaram inclusive a lutar pela independência de Camarões.

No Brasil, o registro mais antigo que se tem do Xambá é enquanto uma nação de culto orixá, pode-se dizer que bem próxima da tradição nagô-yorubá no culto às divindades, porém com suas especificidades e ritos próprios.

O culto Xambá, talvez de todos os cultos afrobrasileiros, tenha sido aquele que de forma mais brutal sofreu com o racismo religioso que compõe a estrutura de nossa sociedade, chegando a praticamente ser extinto após um acontecimento lamentável ocorrido em Maceió/AL dos anos 1910 conhecido como "Quebra de Xangô", momento em que várias pessoas, movidas pela histeria "inquisitorial", destruíram diversas casas de axé da cidade e agrediram covardemente vários sacerdotes africanistas. O Xambá, que naquela época estava estabelecido em Alagoas, sofreu gravemente este processo, tendo que seu principal sacerdote, o Babalorixá Artur Rosendo, se mudar para o estado de Pernambuco para sobreviver.

Com o tempo, o que era conhecido como Nação Xambá acabou por se sincretizar a práticas de Jurema e se fundir com casas de nação Nagô, razão pela qual o culto é hoje considerado praticamente extinto, a não ser por uma casa existente na cidade de Olinda/PE conhecida como "Terreiro de Santa Bárbara". Este Ilê também é chamado de "Portão de Gelo", reconhecido como quilombo urbano no contexto das políticas de reparação histórica que vem sendo levadas a cabo no Brasil de alguns anos para cá. Este terreiro até hoje mantém viva a tradição Xambá sem sincretiza-la com nenhuma outra prática. Como homenagem, "Xambá" também tornou-se o nome de um terminal de ônibus de Olinda/PE.

E nós, por que somos conhecidos como Quimbanda Xambá? Nossa procedência vem da nação Xambá? Não exatamente!

Nas décadas de 1950 e 1960, os cultos afrobrasileiros e as práticas de ocultismo e magia estava popularizando no Brasil, e alguns magos da Magia Universal, residentes no estado do Rio de Janeiro, resolveram criar uma Quimbanda que possuísse equivalência de forças com a Magia Universal, e para tanto precisavam de alguém que possuísse fundamentos e aprontamento na Quimbanda para que o cruzamento se efetivasse. Foi escolhido "a dedo" um quimbandeiro residente em Minas Gerais, que era também babalorixá de Xambá, e foi da sua Quimbanda que nasceu a Quimbanda Xambá como forma de homenagear este culto, que já naquele momento era previsível que chegaria à beira da extinção.

Como forma de lembrarmos nossa raiz, sempre que vamos abrir nossos trabalhos, batemos palmas três vezes e dizemos "Exu bê Celebogum agô", sendo Exu bê a saudação ao orixá Esú dentro da nação Xambá, e Celebogum o nome-segredo do Exu deste quimbandeiro que emprestou seus fundamentos para que nascesse a Quimbanda Xambá, além de ser também uma qualidade de Esú cultuada na nação Xambá.

Sendo assim, apesar de não termos qualquer fundamento da nação Xambá, nos sentimos orgulhosos por eternizar em nossa Quimbanda esse nome que já nasce na África como sinônimo de resistência e assim segiu sendo no Brasil. Louvamos a memória de uma nação que, apesar de quase extinta, deu seu sangue e segue viva, vencendo o racismo religioso e nos inspirando a continuar a luta.

EXU BÊ CELEBOGUM AGÔ!

Sacerdote Thomaz Herler

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