'Pai de santo é tudo picareta!'
Hoje eu vi um filho chamando seu próprio sacerdote de picareta. Se o sacerdote cobra pra fazer ebó, ele é picareta. Se cobra pra ler búzios, é picareta. Se cobra mensalidade dos filhos, é picareta. Se não estiver integralmente à disposição da comunidade e de seus filhos, é mal sacerdote. O padre e o pastor recebem salário. Padres não pagam aluguel para a igreja, pastores entendem sua dedicação ao serviço religioso como um trabalho, uma profissão, e vivem bem com isso. Se tornar sacerdote, na Umbanda ou no Candomblé, não é simples. São anos de dedicação, gastos, dias de função, aprendizado. Muitas vezes um esforço que, se somado, exige mais que uma universidade. As pessoas que criticam uma mãe de santo de Candomblé que vive em sua roça e mantém suas contas com a contribuição de seus filhos não está na pele dela para saber o quanto de esforço e dedicação são necessários para que a estrutura física e espiritual de seu ilê sejam mantidas. Dizer ao sacerdote que ele tem uma vida 'sossegada', 'tranquila', é de uma falta de empatia, conhecimento e honestidade tremendas. Segurar tudo o que ele segura, e ainda ter que lidar com a ingratidão, faz do sacerdócio de matriz africana uma das coisas menos desejáveis desse mundo. Só por cargo dado por orixá mesmo porque por escolha, poucos depois que se tornam sacerdotes e veem o que os aguarda permaneceriam no cargo. E ainda acharem que ele tem que ter um trabalho 'paralelo' à religião para comprar do próprio bolso a pipoca e a vela que vai usar em um ebó para terceiros... querem saber como é isso, troquem de corpo e passem 24h na pele de um sacerdote. Depois disso os filhos podem dizer o que acham. Antes, melhor ficarem quietos. Nunca se esqueça que se um dia você for sacerdote, terá que lidar com filhos que serão um espelho do filho que você mesmo foi... quanto a mim, a maior lição que aprendi na vida é que a gente ajuda quem ajuda a gente, ou pelo menos quem respeita nosso trabalho.
Texto do Renato lourenzo!
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