Apresento para vocês, Criollo de Nàná!
Pois muito bem...
Nàná é considera por todos os adeptos do Culto Vodun como a grande Mãe Universal que criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de vó Misan (missam).
Nàná têm os mais variados nomes de acordo com o dialeto usado:
Bouclou, Buukun, Buruku, etc. Em Dahomey, na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, ela é conhecida como Nàná Buruku (lê-se, buluku).
Existem vários Voduns da linhagem Nàná Buruku, que são feitos nos iniciados. Todos esses Voduns seguem a tradição Nàná Buruku e são tão exigentes quanto Ela.
Para iniciar um processo de feitura de uma Nàná, é exigido a abstinência de sexo, bebidas alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo menos dois meses antes (na África são exigidos 3 meses), de todos que irão participar do processo de renascimento do iniciado. Nesse período, são feitos vários ebós no iniciado e alguns poucos nos participantes e na casa de santo.
Na África, por exemplo, pessoas que nascem em determinadas regiões que foram terras dos Orisás são iniciadas nesses orisás não precisando comprovação dos búzios para isso.
O método dos búzios foi introduzido aqui no Brasil para que pudesse ser realizado o sagrado em que cada iniciado recebece a energia divina de seu orisá e a manifestasse aqui na terra.
Vale lembrar que o Orisá ancestre nunca mudará, pois ele é eterno, o que muda é apenas o seu pai e mãe de cabeça.
Por exemplo:
Seu pai de frente é Sàngó e seu juntó é Osún, mas o seu ancestre é Oxalá. Oxalá sempre vai continuar na vida dessa pessoa, seja nessa ou em quantas forem, o que mudará aqui será apenas o pai e a mãe de cabeça, isso se o filho ou a filha não souberem evoluir com esses orisás ainda PODE SER que venham a ter o mesmo enredo para aprenderem a trabalhar com essas forças novamente.
Se Nàná pediu a cabeça dele, quem sou eu ou você para contestar?
Existem sacerdotes dessa vodun na África e se é lá o berço e a raiz da religião aqui no Brasil quem somos nós no barracão pra contestar o que de lá veio pra cá, não é meus amores?
O fato inusitado foi tão significante em sua vida que lhe rendeu um livro escrito por Marcos Penna, seu amigo e grande incentivador. A biografia não poderia ter outro nome senão “Um Criollo de sucesso”, que resume a sua história de forma geral e mostra como lidou com esta adversidade na liturgia do Candomblé. O trabalho foi editado de maneira independente e lançado em 2016.
SALUBÁ - AXÉ 💜Texto de Thau Ãn
Antes de falar sobre esse grande e humilde babalorisá, vamos aqui entender um pouco sobre Nàná e esse tabu de ela não ter filhos homens. Oh, povo brasileiro, vamos ser mais sábios, por favor, Orisá não tem preconceito.
Para começar, Nàná é uma vodun. Sim, não estou louco e nem bêbado, Nàná na África é uma vodun.
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o homem em especial, foi tirado. Mistura de água e terra, a lama une o princípio receptivo e matricial (a terra) ao princípio dinâmico da mutação e das transformações. Sua ligação com a água e a lama, associa Nàná à agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia dos grãos e favas).
O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nàná requer uma série de cuidados especiais, tanto na África, como no Brasil. Para mim, esse é o mais difícil culto de Vodun. Nàná Buruku não é feita na cabeça de ninguém.
Criollo de Nàná sofreu (e talvez sofra até hoje) preconceito por ser filho dessa maravilhosa vodun. Na verdade, o machismo começa na cabeça de muitos sacerdotes em que eles não seguem os desejos das divindades, mas sim as suas próprias técnicas. Dizer que está errado ele ser filho de Nàná é o mesmo que ser do santo e correr para várias outras casas pedindo uma caída dos búzios para confirmar o seu orixá.
Uma pessoa que nasce na região de Òyó, por exemplo, é filha de Sàngó por ele ter sido rei dessa região.
Fulano é filho de Sàngó e Osún
“Foi um abalo muito grande na época. Eu não sabia, não tinha o entendimento necessário sobre o que significa ser homem e filho deste Orisá. Fui humilhado, esbagaçado, mas me mantive. Acreditei primeiramente em mim e depois em meu Pai de Santo. Nasci para ela, vivo para ela, e fui sim, feito (no Santo) para ela”, afirma Criollo.
Hoje com 63 anos de idade e 49 de iniciado, Pai Criollo está há 43 anos à frente do Ilê Asé Awoo Wurassian, localizado em Curicica, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Segundo, o candomblecista, inicialmente sua jornada mediúnica foi muito difícil, pois na época, o acesso ao conhecimento era extremamente restrito.
A iniciação do sacerdote foi feita pelas mãos de Antônio da Mata Neto, o Pai Marinho de Osún que, apesar da tradição, não tentou encontrar meios de “negociar” com a divindade e seguiu em frente. Ao longo de sua trajetória, Criollo teve que aprender a lidar com julgamentos que colocavam em questão a veracidade das manifestações Nàná em sua cabeça.
“A princípio, eu não entendia, eu não tinha como ter uma grande defesa. A única coisa que eu fazia era chorar e contar com meu zelador, que me apoiou muito. Até o dia em que fui em uma casa e vi minha mãe incorporada por um homem. Eu olhei para dentro de mim e pensei: o santo é meu, eu quem tenho que gostar. Subi no salto e nunca mais eu chorei por conta dessa situação. Hoje sou um homem respeitado nas maiores e mais famosas casas de Candomblé que existem no Rio de Janeiro”, defende.
O dirigente nunca deixou de reverenciar a dona de seu ori, realizando festas abertas ao público, onde a manifestação da divindade por seu intermédio acontecia naturalmente. Entretanto, após a cerimônia de 21 anos de iniciação do sacerdote, Nàná deixou de se manifestar apenas publicamente, reservando o momento só aos membros da casa.
“Depois dos 21 anos que ela se recolheu, colocou mãe Oyá para tomar conta da casa. Existem coisas muito íntimas que motivaram o recolhimento dela para festas públicas. Somente quem estuda e compreende o Candomblé é que entende. Muitas pessoas me chamam de marmoteiro por hoje eu incorporar com Yansã”, comenta.
Desde o dia em que foi iniciado, felizmente, o candomblecista nunca foi confrontado por alguém que discorde da sua condução na religião.
“O dia que vierem falar comigo, olho no olho, terei resposta para dar. Sem briga, sem palavrão, sem opressão. As pessoas gostam muito de mandar recado. Esse tempo todo, ninguém nunca teve coragem de me afrontar cara a cara”, finaliza.
Eis Criollo de Nàná, sabedoria ímpar, humildade incrível e sorriso que resplandece no divino.
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